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quarta-feira, 25 de maio de 2011

A nova imagem da universidade

Imagem adaptada de The Wings Foundation
Hoje, acabei de ser notificado de que, junto com todos os demais professores e os servidores da UnB, que sou alvo de processo administrativo por ter recebido remuneração da UnB em troca de meu trabalho na mesma instituição. O simpático ofício simplesmente indica que parte de meus vencimentos (e dos demais docentes e técnicos administrativos da UnB) podem ser impugnados e que eu devo "reter" em meu contracheque as parcelas da URP. Como vou reter isso no meu contracheque? Ou melhor, como é que eu poderia tirar isso de meu contracheque? Talvez a redação correta fosse reter os valores relativos à URP, especificados no meu contracheque, comigo. Talvez o amável escriba do ofício já tenha retirado 26,5% das normas gramaticais, junto com o seu ato falho (Freud explica); afinal, nós queremos reter os valores no contraqueque; que não quer é o escriba. 

A truculência do TCU foi simplesmente repassada pela administração da UnB, que em nada amenizou a comunicação, sem incluir nem ao menos um preâmbulo de solidariedade. Que o corte, com efeitos retroativos, de 26,5% de nossos vencimentos seja uma questão puramente técnica para a burocracia externa à UnB é até compreensível (mas não perdoável). Mas, que tal indiferença seja reproduzida por aqueles que foram eleitos para gerir e representar a instituição é simplesmente inadmissível. Que a sociedade alienada assista silenciosamente o ocaso daquela que foi pensada para ser A universidade símbolo do país, vá lá; mas que os colegas atuem passivamente, apenas agindo para buscar advogados que os defendam individualmente simplesmente ratifica à máxima romana do divide et impera. Uma situação que abrange TODOS os profissionais da UnB está sendo fracionada em n processos individuais. 

Se eu trabalhei e recebi o que a instituição achou por bem me pagar (que era o que estava anunciado no edital do concurso que prestei), porque sou eu quem deve fornecer explicações? Por que sou eu que deverei que gastar cerca de 5% dos meus próximos vencimentos com encargos advocatícios (um valor módico, graças à associação dos docentes) para realizar minha "defesa", conforme "sugerido" pelo ofício? 

O que antes era apenas uma hipótese improvável, a cada dia que passa, vai se convertendo em uma abominável realidade, engenhosamente executada pelo TCU, cadenciadamente, eliminando, um a um, os obstáculos jurídicos. O desfecho indesejado, e cada vez menos hipotético, prevê que cada um de nós seja devedor da União à razão de um ano de vencimentos (fora juros e correção) para cada quatro anos trabalhados. A conta é simples: o professor com 20 anos de dedicação exclusiva à UnB irá dever 5 anos de vencimentos a serem extraídos - em módicos descontos de 10% - de seu contracheque e de sua aposentadoria até a sua morte. Será que a próxima ação do TCU será garantir que a conta continue a ser paga pelos herdeiros?  

No ritmo que a coisa vai, dentro de alguns anos os turistas poderão subir à portentosa torre digital, olhar para o lago Paranoá, apontar para a outra margem e dizer: "é, lá tinha uma universidade, que foi pensada para ser A universidade do Brasil, lá tinha, mas não tem mais, pena..."

Exagero? Será? Leia o ofício abaixo e tire suas conclusões;
Clique na imagem para ampliar
A situação de indefinição, de assédio moral ao profissional que nunca terá a certeza de quanto vai ganhar (se é que vai ganhar, se é que não vai dever por ter trabalhado) já dura mais de um ano e meio:

3 comentários:

  1. Ontem, com a aprovação do novo código florestal, também podermos dizer em alguns anos:
    - está vendo aquele rio? Pois é, lá tinha mata e bichos, mas não tem mais...

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  2. Só uma coisa me deixa mais indignado do que ver o poder público mexer no salário dos professores; o fato de o sindicato não ter feito uma mobilização geral, logo após o recebimento deste último documento do TCU.

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  3. Na verdade, tanto o sindicato dos sevidores como a associação dos docentes estão batalhando incansavelmente, apesar de terem avaliações opostas quanto às atitudes a serem tomadas. Meu maior estranhamento se dá em relação ao desencontro de informações da reitoria e do "silêncio dos justos" (sociedade civil como um todo e "eternos defensores da educação").

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