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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Formar ou deformar?

Márcio Zardo. "Formar é formar?"Instalação (2007).
Ao ver a imagem acima no Facebook de minha amiga (e mais nova integrante do GPAF) Isabela Frade, não pude deixar de pensar na árdua tarefa que vem sendo buscada neste blog há mais de 4 anos e meio: desenformar a cabeça de novos pesquisadores, de cientistas em construção; desenformar para que possam ousar pensar sem as tão típicas viseiras dos "manuais" """científicos""" (com aspas triplas); desenformar a postura corporal (que faz com que os glúteos fiquem quase sempre molecularmente imbricados a uma carteira discente) e ter o atrevimento de ousar. Ousar escrever, ousar publicar textos inciais (mesmo que em um blog), ousar apresentar-se publicamente (mesmo que no pátio da faculdade com um banner), ousar comentar ideias já consolidadas ao invés de apenas reproduzi-las etc. Enfim: ousar pensar. 

Do pouco que conheço em ciência sei que quanto mais assertivas são as afirmações, mais vulneráveis elas serão no futuro. Mesmo assim, de momento, há algumas "verdades" que parecem ser bastante razoáveis, como, por exemplo: (a) compreender que para haver inovação em ciência é necessário uma boa dose de imaginação; (b) saber que sem imaginação e criatividade não pode haver inovação científica; e, mais ainda (para completar o relação de afirmações com a mágica quantidade de três) (c): ter a certeza de que tais qualidades não podem ser "treinadas", "ensinadas" e/ou estandardizadas 

O problema é que nós, pesquisadores mais antigos (ainda em constante construção, espera-se), temos uma tendência ao comodismo intelectual que nos faz, cada vez mais, buscar repetir soluções criativas anteriores (se faz necessário um parêntesis aqui para diferenciar o amadurecimento da criatividade da repetição de fórmulas que, um dia, foram criativas). O ideal seria que nossa capacidade de imaginar, de ousar, de desenformar, nunca se perdesse e fosse, com o tempo, sempre mais criativa, porém, em geral, isso não se verifica. De qualquer modo, estamos todos fadados ao inexorável destino de ter que um dia (por opção, por comodismo, ou por fatalidade) deixar de ser criativos e parar de contribuir com a inovação científica (o que não significa, em hipótese alguma, parar de sermos "produtivos", e/ou de publicar e cada vez mais solidificar nossos currículos, ou nosso legado, no caso de fatalidades).

O mais assustador da instalação de Márcio Zardo é o nível de correspondência que ela tem com a realidade (se não fosse pelas fôrmas nas bases das carteiras não haveria qualquer metáfora na obra). O assustador não é testemunhar gente de mente velha defendendo que a "formação" científica se dá, justamente, pelo sentido literal do termo (com fôrmas); o que aterroriza não é ter um grupo de gente de mente velha agrupado em comitês e associações dedicando-se a estabelecer parâmetros milimétricos para cada fôrma mental; o que apavora não é ter que se defrontar com gente de mente velha gastando a parcela final de sua lucidez mental para fiscalizar o cumprimento das "diretrizes" estipuladas, como guardiães da "integridade" e "qualidade" científicas; o que realmente amedronta é ver gente jovem, de mente velha, negando a própria juventude, convertendo-se, sem nenhum questionamento, em fiéis escudeiros da ordem e da fôrma, reproduzindo fórmulas arcaicas e negando-se, veementemente, a sair da casca.

Para completar a provocação, tão bem iniciada por Márcio Zardo, sugiro que cada leitor responda "sim" ou "não" para as questões abaixo:
  1. Você ousaria colocar uma ilustração na capa de sua tese/dissertação?
  2. Você se atreveria a escrever sua tese/dissertação em fonte que não fosse recomendada pela a ABNT (por exemplo em "Bookman old stlye")?
  3. Você arriscaria entregar uma tese/dissertação sem um capítulo de "conclusão"?
  4. Você entregaria um artigo para publicação sem usar a ABNT para fazer as referência bibliográficas?
  5. Você acha possível que uma tese de doutorado não tenha um capítulo específico para a metodologia?
  6. Você acha que uma pesquisa científica pode não almejar a comprovação de hipóteses?
  7. Aliás, será que é possível ter uma pesquisa sem hipóteses?
  8. É possível fazer ciência sem prospecção sistemática de dados quantificáveis?
  9. É possível fazer ciência com fatos únicos, impossíveis de serem reproduzidos (e/ou simulados parcialmente) em laboratório?
  10. É cientificamente válido que um pesquisador seja absolutamente subjetivo na escolha de sua problemática de pesquisa, na eleição de sua base empírica e no tratamento desta, desde que os dados coletados sejam fieis a tais opções?
  • Se você respondeu apenas dois "sins", talvez seja o caso de se preparar para se aposentar por idade ou nem começar a carreira de pesquisador, apenas se afiliando à ABNT como sócio benemérito.
  • Se você se considera um pesquisador experiente e respondeu entre e dois e cinco "sins", talvez seja o caso de rever seus paradigmas científicos e tentar oxigenar suas ideias conversando com pesquisadores de outros ambientes institucionais e de outras áreas (sobretudo das Humanidades).
  • Se você se é um jovem pesquisador e respondeu entre e dois e cinco "sins", tome cuidado com suas companhias de mentes mais velhas; elas podem estar minando a sua juventude irremediavelmente.
  • Se você respondeu entre dois e quatro "nãos", não se desespere, ainda pode haver salvação, porém o esforço e a vontade de sair da zona de conforto são de sua exclusiva responsabilidade.
  • Se você respondeu menos do que dois "nãos", é somente uma questão de estar sempre atento, tomando cuidado onde pisa (e onde senta), já que há outras armadilhas muito mais perigosas dos que as "quase inocentes" fôrmas de bolo de Márcio Zardo, como poderia ser uma fôrma cheia de concreto de secagem rápida (que o deixaria eternamente refém da ABNT) ou mesmo uma armadilha de caçar ursos (que minaria, definitivamente, a sua capacidade de buscar novos horizontes, o condenando a escrever inúmeros artigos sobre a mesma coisa até o final dos tempos).
  • Lembre-se que quanto mais "sins" maior será a pena estabelecida pelo Supremo Tribunal da Inquisição e da Integridade da Ciência.
EM TEMPO: o blog recebeu um boa sugestão de Eduardo Tomanik e acrescenta uma nova questão:
"Você entende como válido um projeto científico que possa abrir possibilidades de que a teoria básica e a(s) hipótese(s) não seja(m) (re)confirmada(s)?"Obs: para não quebrar os cabalísticos números da pesquisa tradicional (1, 3, 5, 10, 50 ou 100) fica permitido ao leitor que escolher responder a questão extra se eximir de responder uma das 10 questões elencadas anteriormente, sem prejuízo da análise quantitativa do score de "sins". 

11 comentários:

  1. Nota: não se trata de ignorar os aspectos positivos da ABNT em promover algum nível de padronização, porém de anotar a discordância com uma tendência de "abentização" da pesquisa, que se traduz pela estrita obediência formal à aplicação de regras ignorando as características principais da ciência. Também é necessário rever até onde é desejável "abenetizar" a pesquisa que passa a ter vários itens como não opcionais (tais como conclusão, agradecimentos etc.), isso sem falar na norma para poster. Até hoje não consigo entender porque os textos eletrônicos acadêmicos não se valem de vídeos ao lado das imagens, tabelas etc...

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  2. André: Gostei muito do texto, das provocações que ele traz e especialmente das reflexões que nos força a fazer.
    Se me permite, acrescento um pitaco: tenho tido contato com muitos projetos e textos nos quais as hipóteses e as teorias aparecem como verdades inquestionadas e inquestionáveis. Por isto, acrescentaria uma pergunta: o seu projeto abre ou abriu alguma possibilidade de que a teoria básica e a(s) hipóteses não fossem (re)confirmadas?

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  3. Muito boa essa questão, mas acrescentá-la representaria um problema de ordem cabalística, pois, se não me engano, de acordo com as normas vigentes do Supremo Tribunal da Inquisição e da Integridade da Ciência (STIIC), não está permitido montar listas, ou recortes, que não se enquadrem em um dos números adiante: 1 (válido apenas para estudos de caso, mas a autorização do STIIC, para essa possibilidade demora muito a sair); 3, 5, 10, 50 ou 100.

    Como já foram feitas 10 questões (infelizmente essa sua não me ocorreu quando eu escrevi o post), colocar uma décima primeira poderia ser interpretado como ultrapassar imites da heresia acadêmica.

    De qualquer modo, vou tentar um subterfúgio para acrescentar sua importante contribuição...

    Bem sei que, se por conta desse ajuste, a minha licença de blogueiro vier a ser cassada pelo STIIC, o Ministério da Magia Ciência e Tecnologia (ver post sobre o MMCT AQUI) irá designá-lo como meu substituto, ficando o blog em ótimas mãos...

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  4. André, ótimos questionamentos no texto. É importante que nos perguntemos se estamos dispostos a incentivar ousadia nos discentes. Não só isso. Também é crucial entender até que ponto os discentes estão abertos a abraçar o caminho da originalidade com a coragem do risco. Ao corresponder à tradição manualística, transformamos as Universidades brasileiras num verdadeiro "mercado de encaixotamento de teorias". Marconi e Lakanos estão lucrando absurdamente nesse sistema avassalador de criatividades. O resultado é um fast food de pesquisas científicas. É relevante que nos lembremos que todo sistema é o resultado de nossas próprias escolhas. Afinal, não estamos consumindo produtos insossos por pagar o preço do standard?

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    1. "Fast food de pesquisas científicas" (ÁVILA, 2014): adorei o conceito; o blog fica no aguardo de seu post sobre o tema. Dá para abordar o aspecto dos manuais tipo "receita de bolo", que permitem quebrar o galho mas nunca ajudarão ninguém a ser um master chef confeiteiro condenando os futuros cozinheiros a tentarem montar uma cantina italiana a base de macarrão instantâneo. Sugestão de título para o post: "Marc Donald's da ciência: um fast food de pesquisas".

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  5. Há pouco tempo acompanho os “posts” desse blog e tenho visto grande densidade nas discussões, claro que como novo pesquisador a ser desenformado, observo com cautela e reflito muito a cada leitura, nunca escrevo. Percebo então, que a minha criatividade carece de estímulos, sejam visuais, sonoros ou de qualquer outro tipo. Nesse contexto, nada melhor que um bom texto para me motivar.
    Para nós, os pesquisadores iniciantes, há sempre um “friozinho na barriga” quando escrevemos no cenário acadêmico. Ousar requer grande sacrifício e iniciativa, se estamos certos ou errados saberemos com o tempo. Habitualmente, escrevemos com insegurança, mas não podemos deixar de lado a premissa de que de algum modo aprenderemos com o processo.
    Agradeço aos produtores do Blog por nos presentear com excelentes textos, estimulando reflexões que nos aproximam de um processo de construção da ciência ideal, que realiza reflexão, que inova, que questiona e desenforma para dar forma a um pesquisador.

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    1. Rodrigo,
      muito boa sua participação. Abuse & ouse mais vezes; o blog está à disposição.
      Algumas observações sobre o que você comenta:
      (i) se você se considera um novo pesquisador não aspire ser desenformado, porém tente nunca ser espremido pela fôrma; se você não entrar nela não precisará de ajuda para sair...
      (ii) inverta seus passos: observe sempre e sem nenhuma cautela; leia sempre e sem nenhuma cautela também e, escreva sempre, porém com cautela para não falar bobagem, mas nunca para se manter nos trilhos (ou na fôrma), mas tenha o bom senso de usar a roupa adequada para cada ambiente (não vá de sunga a um casamento e nem de terno para uma piscina);
      (iii) menos cautela para observar, certamente, te dará mais e mais estímulos;
      (iv) ousar pode dar "friozinho" sim (como vc acha que me sinto ao publicar tais textos antes de começar a receber retornos positivos?), mas nunca deve representar "sacrifício";
      (v) em ciência, assim como na vida, não há certo e errado e a sua pretensa sapiência tardia pode não ser corroborada por muita gente (o que pode significar que vc tanto pode estar "corretamente" (sic) indo contra a maré, como "incorretamente" (sic) sendo um cabeçudo teimoso e incapaz de reconhecer as próprias bobagens, já que nosso juízo sobre nós mesmos é, geralmente, inadequado);
      (vi) é muito bom ser humilde e sempre estar inseguro com o que escrevemos;
      (vii) aprender continuamente ao refletir e escrever tem que ser mais do que uma premissa, tem que ser efetivo sempre (no momento que não tivermos mais capacidade de aprender ao escrever nossas reflexões científicas, vamos ter chegado à estagnação e condenados, necessariamente, ser repetidores de formulas (que outrora puderam ser criativas), mesmo que continuando a publicar muito (ser produtivo, não é equivalente a ser inovador);
      (viii) eu não acredito e nem defendo nenhuma ciência ideal (aposto que Tomanik e Rodrigo Ávila também não, ainda não se posicionou aqui, mas também será citado: Alan Curcino certamente tem a mesma postura contra uma "ciência ideal" - TODOS os aqui citados deverão se manifestar para não correr o risco de que eu entenda ter uma procuração para manifestar ideias em vosso nome);
      (ix) desenformar é para desenformar mesmo não é para "dar forma a um pesquisador" (sic); se você realmente conseguir se desenformar, qual seria o sentido de voltar para a fôrma?; a maturidade de um pesquisador é resultante de um processo individual, complexo, por vezes longo e doloroso, de auto-construção, o qual, em minha opinião, deve, NECESSARIAMENTE, ocorrer fora das fôrmas...

      Segue...

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    2. ... continuando:

      Espero que minhas observações não o intimide a continuar a vencer o frio da barriga e a participar mais. São apenas ideias abertas para que continuemos o debate (entre nós mesmos e também com quem mais estiver interessado), sem nenhuma pretensão de estabelecer certos e errados ou de buscar construir verdades.

      O blog está aberto para que você (e outros interessados) possa se expressar e contribuir com novos textos, que estimulem mais reflexões. Se você procurar na relação de autores, na coluna da direita, verá que há muitos que publicam aqui que não trazem o selo de qualidade padrão ANCIB (que só aceita doutores para expor trabalhos em seus encontros). Todos, porém, têm o padrão "Slow Food de reflexão científica crítica". A regra de ouro é: ser inteiramente responsável pelas próprias ideias e estar disposto a debatê-las com quem mais manifestar interesse, doa a quem doer.
      Fico no aguardo de um texto seu que possa ter autonomia suficiente para ser um post (acho que o frio na barriga inicial já foi superado, agora é tratar de explorar, exercitar e aperfeiçoar a nova competência de escrever e de manifestar publicamente suas ideias...). Não há pressa; fica para quando você puder/quiser. Qualquer dúvida escreva para mim e/ou para outros "produtores" do blog: Tomanik, Rodrigo e Alan (pronto! já foram designados como produtores e já podem indicar isso no Lattes). Me escreva em apalopez@gmail.com que eu te passo os contatos.
      Fico no aguardo e agradeço a colaboração...

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  6. * Você ousaria colocar uma ilustração na capa de sua tese/dissertação?
    Já vi muita gente fazendo isso. No exterior.

    * Você se atreveria a escrever sua tese/dissertação em fonte que não fosse recomendada pela a ABNT (por exemplo em "Bookman old stlye")?

    *** Não existe "fonte recomendada pela ABNT". É só ler as normas. O que existe são instituições que exigem esta ou outra fonte. ***


    * Você arriscaria entregar uma tese/dissertação sem um capítulo de "conclusão"?
    Sim. Mude o título do capítulo de conclusão para "considerações finais", como é a moda hoje em dia, já que muitos professores doutores consideram muito arrogante que seus orientandos possam concluir qualquer coisa. Mas qualquer pesquisa tem que ter resultados, uma resposta a uma hipótese etc. -- chame de conclusão ou do que quiser.

    * Você entregaria um artigo para publicação sem usar a ABNT para fazer as referência [sic] bibliográficas?
    Sim, de fato, se o periódico pedir outra norma. Há milhares de periódicos assim por aí, inclusive, claro, no Brasil. Alguém esqueceu de dizer que ABNT é coisa de brasileiro?


    * Você acha possível que uma tese de doutorado não tenha um capítulo específico para a metodologia?
    Você precisa falar como fez a coisa que queria fazer. O que foi feito para responder a uma pergunta dentro de uma área específica do conhecimento. Se tiver um capítulo específico, tudo bem. Se quiser juntar o capítulo de estado da arte e metodologia, ou metodologia e introdução, o que há de errado?


    * Você acha que uma pesquisa científica pode não almejar a comprovação de hipóteses?
    Depende do que se entende por pesquisa científica. Mas muita pesquisa acadêmica, lhe garanto, de ciências humanas, não tem nem hipótese explícita.

    * Aliás, será que é possível ter uma pesquisa sem hipóteses?
    Depende do que entende por pesquisa. Essa é uma pergunta filosófica.

    É possível fazer ciência sem prospecção sistemática de dados quantificáveis?
    É possível fazer ciência com fatos únicos, impossíveis de serem reproduzidos (e/ou simulados parcialmente) em laboratório?
    Sim. Pergunte aos físicos teóricos, entre outros. Eles diriam que há possibilidade prospecção de dados, embora isso às vezes não passe de possibilidade. Eles não consideram suas pesquisas teóricas não empíricas como "não científicas". E você está confundindo fatos únicos com ciência experimental. Se não existe ciência de fatos individuais, por outro lado, não existe *somente* a ciência de fatos reproduzíveis.

    * É cientificamente valido [sic] que um pesquisador seja absolutamente subjetivo na escolha de sua problemática de pesquisa, na eleição de sua base empírica e no tratamento desta, desde que os dados coletados sejam fieis a tais opções?
    Em primeiro lugar, é impossível ser "absolutamente subjetivo". Essa expressão nada significa do ponto de vista social ou até psicológico.
    A problemática de pesquisa delimita a base empírica. Eu não posso querer estudar a origem dos buracos negros através de vacas. A área do conhecimento delimita e define o tratamento do tema. A coleta de dados pertinentes é o básico do senso comum científico, e não é prova da cientificidade de nada. A ciência é um método, não é uma problemática, nem uma base empírica, nem mera coleta de dados relevantes.

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    1. Prezado Youssef,

      fico feliz com seus comentários e sua leitura atenta do texto (já corrigi o "válido", grato). Não vou comentar pontualmente cada um de seus pontos, porque acho que seria chover no molhado, já que temos, aparentemente, concepções menos estanques sobre o que é ciência e a importância estética da maioria dos aspectos formais de um trabalho científico.

      Apesar de ter achado bem ilustrativo o exemplo das vacas, me parece importante relativizar que nem sempre há essa relação entre área de conhecimento, tema, problema e fontes, como pôde ser observado na "revolução documental" que passou a incluir na pesquisa em história informações da paleobiologia, etologia, geologia etc. O termo "senso comum" é algo que sempre ouço (ou leio) com certa desconfiança. Destaco que os dados "pertinentes" não têm nenhum valor caso não haja honestidade por parte do pesquisador na condução daquilo que Thompson denominou de "diálogo com as evidências"...

      Para um pesquisador das humanidades como o Sr., o presente post pode parecer um pouco óbvio, e até mesmo ingênuo, mas eu, por opção, saí da história para vir trabalhar nas "Ciências Sociais Aplicadas - 1" (denominação CAPES), que é um universo totalmente distinto, no qual a padronização de formas, cascas e máscaras cada dia mais torna-se o centro da elaboração de produtos que possam ser "quallisficáveis", independentemente de haver uma base científica solida o suficiente para sustentá-los.

      Acho que se olharmos com atenção essa mazela já abrange outras áreas e não me parece que as Humanidades estejam imunes...

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    2. André, concordo com seu comentário. E, claro, as humanidades não estão imunes (não as defendo de forma alguma). Seu post é extremamente pertinente -- e, de fato, é isso que procuro passar para meus alunos.

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