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quinta-feira, 25 de março de 2010

Falando sobre SEXO
(ou "Qualquer resultado científico é válido?")

Uma reportagem indica uma pesquisa que associa infidelidade masculina ao QI.
Ao ler a reportagem, de saída, vejo dois graves problemas:
  • um ligado aos pressupostos;
  • outro ligado ao dados.
Quais seriam esses problemas?
Quais outros problemas metodológicos você vê nessa pesquisa?
Acesse a nota de ciência para dumbies aqui e opine.

10 comentários:

  1. Ok, ok, ok. Não é bem uma reportagem científica séria. Mas vamos, para efeitos didáticos, fingir que é...

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  2. Vários pontos são importantes serem explorados aqui. Primeiro a pesquisa parte de um pressuposto errado: detectar a infidelidade com relação à inteligência. Não há relação direta entre inteligência/infidelidade a ponto de se criar um conceito. Outra observação também pode ser feita sobre o fato de que a hipótese mais coerente pode ser: será que o homem mais inteligente não tem maior capacidade de camuflar a sua infidelidade?
    Há outro problema na questão conceitual: o que vem a ser inteligência? Teste de QI? O que pode ser considerado mais ou menos inteligente? Já faz tempo que o teste de QI é insuficiente para avaliar a inteligência. É confiável relacionar o conceito de inteligência com os dados levantados pelo teste de QI?
    Enfim, temos aí mais um exemplo de uma pesquisa que ganha visibilidade pela polêmica do tema e menos pela metodologia abordada. Mais uma vez a guerra dos sexos (tema tão batido).
    Ah, outra coisa importante... A pesquisa merece seriedade por que foi feita pela revista especializada “Social Psychology Quarterly”? Qual a relação ciência e dinheiro?
    Porém um fato pode mudar a vida dos homens. Agora teremos que procurar as mulheres menos inteligentes pela tendência à monogamia. Essa é demais! Hahahaha.
    Apesar da brincadeira, é uma boa discussão em termos metodológicos, científicos e políticos também.
    Abraços

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  3. Bem, partindo do pressuposto que seja uma reportagem científica.... como pode-se tecer explicações sobre comparações de pesquisas que utilizam "amostras" diferentes, em contextos diferentes?? Por analogia, se compararmos uma pesquisa sobre as propriedades das maçãs de uma determinada região e outra sobre as cores das maçãs de outra região... sabemos que ambas são maçãs (no caso da reportagem, o ser humano), mas o que temos no final é apenas uma salada de maçãs... bem, é meio doido, mas é minha opinião... abraços

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  4. A primeira coisa que não me parece de bom tom é o fato de o pesquisador ter optado por cruzar dados de pesquisas já feitas em vez de, sei lá, elaborar um questionário coerente com os termos de sua hipótese e ir à campo coletar os insumos pro seu trabalho.

    “Ao cruzar os dados das duas pesquisas, o autor concluiu que as pessoas que acreditam na importância da fidelidade sexual para uma relação demonstraram QI mais alto.”

    Tenho dúvidas sobre em que termos essas outras pesquisas foram feitas, pois uma coisa é perguntar “você acredita na importância da fidelidade sexual?” outra coisa é perguntar “você já traiu o seu parceiro?”. Associa-se a variável de QI a quem acredita na fidelidade, ou a quem nunca traiu? Pra mim, esses elementos não são mutuamente exclusivos.
    “...o comportamento "fiel" do homem mais inteligente seria um sinal da evolução da espécie...”
    “assumir uma relação de exclusividade sexual teria se tornado então uma "novidade evolucionária" e pessoas mais inteligentes estariam mais inclinadas a adotar novas práticas em termos evolucionários”
    Detesto essa idéia de ver a historia como uma reta ascendente, o homem como ser que progride, não penso que as coisas funcionem assim, a epopéia humana é sem forma, cíclica, ascendente, decadente, brilhante, obscura, tudo num misto, com num daqueles quadros esquisitos do Pablo Picasso. Pra mim tanto em relação ao bicho homem, quanto a qualquer outra criatura do reino animal, em nenhum nível ser monógamo representa uma evolução em relação a ser polígamo, e vice-versa.

    Em tom de brincadeira, poderia até se dizer que o polígamo é mais inteligente por ter a habilidade de ter próximo a si, em grande número, o elemento mais complexo, belo e misterioso do universo: a mulher.

    leonardo moreira.

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  5. Isso me lembra de quando comentei sobre a pesquisa que concluiu que "Pilulas anti-concepcionais beneficiam a saúde da mulher". Lembro também do comentário do Prof. André a respeito de pesquisas de saúde: "Só acredito nas que me agradam".

    A notícia dá margem pra muitos questionamentos:
    - como ele fez o cruzamento dessas pesquisas? ele teve acesso ao nome de cada respondente?
    - e por que ele usou o QI, e não outra variável? (isso é um pressuposto)
    - pra quê serve essa pesquisa?

    Além disso, como o Rodrigo falou, QI é insuficiente para avaliar a inteligência. A reportagem cita palavras do Dr. Kanazawa em que fica claro que ele "mistura" QI com inteligência.

    E aí quando ele fala que isso é resultado de evolução da espécie... pegou tão pesado que nem dá argumentar nada.

    Esse cara é famoso (o google sugere o nome dele enquanto vc digita), e outras pesquisas dele são mais polêmicas ainda que essa.

    Olhando os títulos dos livros dele lembrei do Bruno, do texto da primeira aula. E também do "perigo da ciência descomprometida". Quais as consequências do seu trabalho?

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  6. O que impressiona é a contradição evidente e a ausência de relação de causa e efeito, com destaque para os trechos abaixo:

    "Sua teoria é baseada no conceito de que, ao longo da história evolucionária, os homens sempre foram "relativamente polígamos", e que isso está mudando."

    Pra considerarmos que isso está mudando é necessário compreender as causas da mudança - e certamente o conjunto de coincidências obtido do cruzamento dos dados não pode servir de pressuposto, principalmente quando há presença de contradição (pois "a exclusividade sexual não significa maior QI entre as mulheres, já que elas sempre foram relativamente monogâmicas e isso não representaria uma evolução").

    Lembra um pouco o artigo discutido na primeira aula (Sistema de currículos Lattes, da jornalista Vanessa Barbara), onde a "aura" científica fazia com que os desatentos atribuissem valor à suposta pesquisa.

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  7. Estamos discutindo na disciplina -Fundamentos da Ciência da Informação- sobre o que é Ciência. Já vimos que se sabe muito mais sobre como fazer Ciência do que propriamente defini-la.
    Nesse caso, podemos ver claramente que o está sendo feito não é Ciência, pois a metodologia utilizada não nos permitiria induzir as conclusões que foram apresentadas.
    Podemos talvez chamar de reportagem, pois os fatos foram investigados jornalisticamente.

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  8. Queria chamar a atenção para o fato do estudo não abordar a questão da poligamia aceita em outras sociedades. Nada é comentando sobre a questão. Lembrando que para essas sociedades poligamia não é traição. Nesse caso, o homem seria mais ou menos inteligente?
    Outro ponto a abordar é que o estudo trata de pessoas heterosexuais, mas e os homesexuais? Será que são todos fiéis?
    Coloquei aqui apenas algumas indagações que nos permitem contestar um resultado simplista para uma questão tão compelxa.
    No mais, uma brincadeira que um colega fez - "Pobres pesquisadores. Não se deram conta que os de QI mais alto é que nunca são descobertos."

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  9. Esse tipo de noticiário cria certa credibilidade na sociedade ao citar os institutos, mas aos mais atentos e “científicos”, cabem perceber que as pesquisas americanas não tinham como objetivo identificar grupos monogâmicos ou poligâmicos. Outro aspecto, o QI já não é o suficiente para avaliar a inteligência humana, como já mencionado em outros comentários de colegas. Não relata a delimitação da pesquisa e nem suas variáveis como situação sócio-econômica, escolaridade etc.
    Como não descreve a metodologia utilizada nas pesquisas e nem para o cruzamento dos dados, não há como avaliar o uso de técnicas científicas.
    Colocar que a monogamia é indicador de evolução masculina e que não se aplica as mulheres, considerando apenas a avaliação de QI, me fez lembrar da pesquisa sobre a quantidade de neurônios masculinos e femininos, que vários “humoristas” utilizaram como material de trabalho para novas piadas, provavelmente essa nova reportagem venha a ser mais um desses materiais.

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  10. Achei interessante, mas coitada da mulher que considera seu parceiro pouco inteligente e ler isso. E talvez, iludida seja a esposa de um Doutor.
    Acredito que a fidelidade esta relacionada a outras variáveis até mais significativas do que QI.
    No entanto, esta relacão é algo bastante polêmica.
    Cada cientista apresenta um "hipótese" e quer a qualquer custo provar sua veracidade.

    Se em vez de relacionar "infidelidade com QI" ele tivesse relacionado "Infidelidade com Religião"???

    Como já foi dito cada um acredita no que quer acreditar...até em questão de "pesquisa"

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