Ambiente virtual de debate metodológico em Ciência da Informação, pesquisa científica e produção social de conhecimento

domingo, 30 de janeiro de 2011

A perna manca do Brasil (só a perna?)

Clique na imagem para ler o texto do Prof. Saraiva

Em excelente artigo no Correio deste domingo, meu colega de Câmara de Pesquisa e Pós-graduação da UnB, o Prof. Ph.D. Flávio Sombra Saraiva, com a sua habitual perspicácia e precisão, retomou o tema da "perna-manca", utilizado na semana anterior para, metoforicamente explicar porque a atual onda de "crescimento" nacional está comprometida (acesse aqui a reportagem). No artigo de hoje o eminente professor detalha melhor alguns macro-problemas do modelo de desenvolvimento nacional, vigente há mais de um século. O paralelo com a UnB e o modelo de universidade perseguido (perseguido mesmo) não é diferente do que aquele que indiquei em comentário do post anterior, no qual fiz menção à Embrapa, como a exceção da pesquisa fora das universidades. Na tentativa de avançar a discussão sobre o desenvolvimento e seus entraves (representados pela perna-manca) teríamos que pensar, anatomicamente falando, ainda no cérebro, representado pela construção de conhecimento de ponta na universidades. 

Muitas vezes os "grandes" pensadores das grandes "soluções" para o Brasil se esquecem de pensar no dia-a-dia, como é o caso do salário dos professores (e não o dos juízes e deputados), a penúria dos bolsistas (alguns que ainda têm dívidas contraídas durante o Natal, quando houve um "apagão" em parte do sistema de pagamento de bolsas). É no dia-a-dia que se formam os pesquisadores de amanhã e que se produz, gota a gota, a inovação tecnológica. Sem ela, não há como produzir valor agregado comprometido com o desenvolvimento nacional. Os números que colocam o DF como um dos mais altos PIBs do país se esquecem de mostrar que tais índices vêm da circulação de dinheiros de impostos e de altos salários públicos (de impostos também, portanto) e não a produção de bens com valor agregado.

Hoje, fim de janeiro de 2011, a situação das IES federais é gravíssima. Os programas da UnB que acreditaram na possibilidade de transferir recursos não gastos em 2010 para 2011 se deram mal, posto que além de os orçamentos terem sido zerados eles ainda não foram abertos. Alguns programas pouparam recursos pensando em gastar melhor em 2011. O resultado foi uma perna mais do que manca com restrições em um ano e no outro. O pouco conhecimento de ponta que conseguimos, às duríssimas penas, produzir na pós-graduação depende, cada vez mais, de esforços abnegados de jovens pesquisadores. Uma das mais importantes conferências internacionais da área da Organização do Conhecimento aceitou a comunicação de um doutorando da UnB. Esse rapaz, por ter um projeto ligado à área da qualidade da informação em bibliotecas de saúde, pleiteou um auxílio ao Ministério da Sáude que foi negado. O tradicional apoio que o programa de pós ao qual ele se inscreve poderia dar obrigou-se a negar a solicitação de míseros 800 dolares para representar o programa e a UnB em uma conferência top na Índia, pela simples razão que o nosso orçamento ainda não foi liberado (e existem pressões para que a modalidade que hoje sustenta a pós na UnB, o programa PROF, seja extinta). Hoje não conseguimos montar bancas de mestrado com professores externos à Brasília, por conta de tais contingências. O prof Saraiva se pergunta (retoricamente) se algum dia termos um Nobel ministrando classes na UnB. Eu me pergunto quando é que vamos conseguir ter, de novo, um nome da USP, da UNICAMP, daqui do país mesmo, para compor um banca de mestrado e, eventualmente, dar uma palestra. 

O Brasil tem uma perna manca e um cérebro cada vez menos funcional. Os piratas, pelo contrário: tiram proveito da situação, mesmo com a perna manca. Os piratas, dos olhos de vidro (como alguns ufanistas da UnB, que só olham para um lado da questão), das pernas de pau, das caras de maus (e caras de pau mesmo), vão acumulando cada vez mais riquezas, entesourando-as, enquanto fazem a universidade pública andar na prancha, enquanto a galera vibra, entre um baseado e outro, porque as privadas nem na prancha estão.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A UnB é mesmo assim, ou as pessoas é que exageram?

foto com "legenda" adicionada, copiada de Ciência Brasil (ver post aqui)

Recentemente a UnB voltou aos noticiários,  não na seção de ciência e tecnologia e quase foi parar nas páginas policiais. Uma série de reportagens da grande imprensa sobre alguns gravíssimos problemas de comportamento estudantil e da postura da administração tem estado em evidência nos meios de comunicação de massa, o que tem gerado diversas manisfestações viruais (entre outras). O blog Ciência Brasil tem sistematicamente divulgado muitos desses problemas, inclusive antes deles chegarem às grandes redes (basta fazer uma busca por "corredor da morte" ali, ou clicar aqui). A própria instituição tem se utilizado de sua página oficial para tratar da questão (veja aqui o resultado da mesma busca, "corredor da morte" no portal da UnB). Os mais ácidos podem até dizer que as notícias no portal da própria instituição lembram a clássica piada dos operários suicidas (ver aqui), mas isso não está no escopo desta postagem. O fato é que a situação está tomando vulto com muitas fontes de divulgação: as deliberadamente contrárias à atual gestão da UnB; as da própria gestão e aquelas que nunca são neutras, mas que nunca dizem ao certo de que lado estão: a grande imprensa. 

foto copiada do Correio Braziliense (ver notícia aqui)


No meio de tal polêmica alguns alunos, que não são comprometidos com o jogo político interno da UnB também têm se manifestado, como pode ser visto em post no blog de Diplomática e Tipologia aqui.  A um dos comentários, com muita propriedade, não tenta tapar o Sol com a peneira, assume que o problema existe, mas pergunta qual é o interesse que move, constantemente, as grandes redes na divulgação (com um certo exagero) dos problemas da UnB. A comentarista diz que " (...)ainda é visível a superioridade da maioria dos cursos da UnB em comparação com os de instituições privadas do DF, o que indica o comprometimento dos alunos da instituição, não dá para avaliar e tachar a UnB apenas com o que a mídia se dispõe a mostrar" (Cf. comment de Fernanda Cândido aqui). Em parte ela tem razão e em parte não. Essa contradição é bem apontada por Adrielly Torres, a aluna autora da postagem em tela.

Desde que cheguei em Brasília tenho me surpreendido com a altíssima fama da UnB, que não é devidamente contrastada com um (salutar) exercício de auto-crítica. Há até quem diga (com alguma razão) que o Marcelo Hermes exagera nesse aspecto, porém suas críticas são, geralmente, muito pertinentes (ver exemplo aqui). Talvez ele exagere devido ao surpreendente silêncio dos bons :)  A Fernanda está certa quando compara a UnB com as privadas da região, ou mesmo com muitas outras públicas, de menor tradição espalhadas pelo Brasil. Pois é, dizem que em terra de cego, quem tem um olho só é rei. Mas, e se começarmos a comparar a UnB com outras IFES, como UFRJ, UFSC, UFRGS, UFMG etc.? A situação não é tão tranquila assim. A coisa é mais grave devido à história e à suposta vocação da UnB em ser A UNIVERSIDADE DO BRASIL. Isso sempre me impressionou por aqui: a incapacidade de tentar inserir a UnB em um panorama maior, que incorpore a discussão do paradigma do que é ser uma universidade de excelência e não o que é ser uma universidade melhor que as privadas locais. Falando nisso, alguém que conhece a BCE, da UnB já entrou na biblioteca do CEUB? É privada, tem problemas sérios para ser uma universidade de pesquisa, mas tem alguns pontos melhores resolvidos do que a UnB; detalhe irônico: a bibliotecária de lá foi formada na UnB.

O fundo da questão é exatamente esse: não queremos (eu e aqueles que defendem o que seja uma universidade de pesquisa séria - ver exemplo aqui) que a UnB seja uma instituição apenas formadora de mão de obra para o mercado (aqui, leia-se, concursos). Queremos que ela produza conhecimento e pessoas produtoras de conhecimento de ponta. Isso no Brasil, ainda é privilégio das universidades públicas, porque, via de regra (com honrosas exceções) as privadas ainda não conseguiram equacionar lucro com pesquisa e desenvolvimento.

Ficar só na comparação com as outras federais é desconfortável, porém pode-se ainda tentar pensar em algumas equivalências e em algumas similaridades. Mas, e se formos comparar a UnB com algumas estaduais importantes, que não precisam ser as paulistas? A distância começa a aumentar. Se começarmos a pensar sobre o que diferencia uma UnB de uma USP, é claro que haverá muitos fatores de ordem externa à administração da universidade, mas também haverá muitos fatores internos. Por exemplo: quem não é de São Paulo sabe que a USP tem, há mais de 20 anos uma rede integrada de biblioteca que congrega as mais de 40 bibliotecas de grande e médio porte? Será que as pessoas da UnB sabem que no campus da USP existe um ônibus interno, GRATIS, para que os alunos possam de locomover? São apenas exemplos que nos separam do resto do mundo. 

Comparar a UnB com as grandes universidades do mundo é praticamente impossível, mas e em um universo ibero-americano? Se tirarmos Espanha e Portugal a coisa fica mais ou menos assim:

  • 1 USP - São Paulo
  • 2 UNAM (México)
  • 3 UNICAMP - São Paulo
  • 4 UNESP - São Paulo
  • 5 UFRJ
  • 6 UBA - Argentina
  • 7 UFRGS
  • 8 UFMG
  • 9 U Chile
  • 10 UFSP
A UnB fica em 20º. Tudo bem aqui no DF, pois as outras duas melhores classificadas daqui são a Católica em 111º e o CEUB em 362º. Por isso que eu concordo e discordo da Fernanda. Rivalizar com USP,UNAM e UNICAMP é difícil, mas a UnB tinha a OBRIGAÇÃO de ser a melhor federal e teria condições de estar em um nível similar ao da UNESP. Isso não ocorre, principalmente, por motivos internos já que somos, provavelmente a mais rica das federais.

E se, além de deixarmos de brincar com os cegos, formos abrir um pouco mais os olhos. No mesmo ranking, incluindo Portugal e Espanha a situação fica assim:

  • 1 USP - São Paulo
  • 2 UNAM (México)
  • 3 UNICAMP - São Paulo
  • 4 U Barcelona - Espanha
  • 5 UCM - Espanha
  • 6 UNESP - São Paulo
  • 7 UFRJ
A UnB cai para 48, a UCB para 177 e o CEUB para 470. Olha como a Fernanda está correta: em uma perspectiva internacional, de longe a UnB é bem melhor (e bota melhor nisso) que as privadas daqui. Mas porque será que a URFJ praticamente não balança quando mudamos a comparação e a UnB desaba? Talvez seja porque sempre nos achamos o máximo quando nos comparamos com o nosso próprio umbigo.

Os dados de ranking indicados são do SCImago, de maio de 2010 (ver post e acesso ao ranking aqui). Prefiro esse ranking por ser elaborado mais de acordo com as especificidades de nosso perfil ibérico de universidade. Existe um outro ranking, mundial, que é tido como padrão: o Webometrics. Por ele as melhores iberoamericanas ficam assim, de acordo com a posição mundial:

  1. 71 UNAM México
  2. 122 USP - São Paulo
  3. 147 UCM - Espanha
  4. 184 UPM - Espanha
  5. 199 U Chile
  6. 202 UPV - Espanha
  7. 205 U VAlencia - Espanha
A UNICAMP está em 13º entre as iberoamericanas nesse ranking e em 239º no mundo. A melhor federal é a UFSC em 377º, seguida de perto pela UFRJ, que está em 386º. A UnB aparece na 681ª posição e as privadas daqui sequer configuram nessa lista, dando razão para todos aqueles que acham que a UnB é o máximo (ou nem tão ruim assim).

Como dizem por aí: o primeiro passo para resolver um problema é assumir que ele existe. Rankings são rankings e, portanto, sujeitos a várias distorções, mas, de qualquer modo, indicam uma tendência que não observamos porque insistimos em brincar de ser caolhos e continuar a reinar na terra dos cegos.

A dúvida da dúvida

A ciência é feita por verdades absolutas ou a consciência de uma ciência falível se faz importante para o seu próprio aprimoramento ao longo de sua trajetória? Lembro que muitas questões desse gênero foram discutidas no decorrer da disciplina de Metodologia. Além do fato de que a ciência, como um saber que beira muitas vezes os ares da intensa presunção, se apresenta sob fórmulas eruditas de expressão, escondendo erros e equívocos pela dificuldade de entendimento de um público mais amplo. Falar difícil, nesse caso específico, é esconder passos escorregadios. É pensar que se caminha sobre o cimento duro, quando se mergulha em areia movediça.

Pensando nesses pontos, a revista eletrônica Edge, que faz todos os anos uma pergunta aos cientistas com o objeto de destacar tendências nos rumos do pensamento científico, publicou as respostas do seguinte questionamento: "Qual conceito científico poderia aprimorar a ferramenta cognitiva de uma pessoa?" E nos parece que a dúvida foi o conceito mais citado dentre os pesquisados. Confira AQUI e tire suas próprias conclusões... ou suas próprias dúvidas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Repositório de jornais impressos



O portal Google news traz uma excelente fonte de informação para o trabalho com jornais atuais e antigos. Por exemplo a coleção do Jornal do Brasil, está com 17.706 exemplares digitalizados, desde 1891 até 1999. No portal é possível ampliar a página, folhear o jornal e até imprimir. Confira a coleção do extinto jornal em suporte físico aqui. Acesse o portal, para consultar outros títulos, aqui.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A ciência do brasileiro


Nem só de futebol vive o Brasileiro. Pelo menos essa é a conclusão sinalizada pela pesquisa realizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O site da Folha de São Paulo apresentou ontem os resultados da pesquisa em questão (Acesse aqui). Apesar do avanço apresentado nos últimos quatro anos, a maioria dos entrevistados não soube citar sequer o nome de pelo menos um pesquisador brasileiro; muito menos alguma agência de fomento às pesquisas. 

As perguntas que não querem calar: é suficiente perguntar se o interesse por pesquisas aumentou? Você responderia que não diante de um pesquisador? Em que medida o interesse declarado pessoalmente pode realmente contribuir para a melhoria dos níveis de pesquisa do país? A pesquisa tinha por objetivo investigar as atitudes e percepções dos brasileiros no que diz respeito a ciência e tecnologia. Enquanto isso, todos sabem qual será o futuro de Ronaldinho Gaúcho...