Sempre brinco com os alunos de iniciação científica que, apesar de terem passado pelo vestibular, eles são analfabetos. Explico-me: analfabetos em escrita científica. Não sabem ler artigos e livros científicos e também têm enormes dificuldades para escrever textos sem "acho que", juízos de valor, referências corretas etc.
Um dos exercícios básicos que passo a eles é confecção de esquemas, fichamentos, resumos e resenhas, discutindo suas diferenças em crescente complexidade. Existem inúmeros (nesse caso a palavra é mais do que uma força de expressão) livros e manuais dedicados ao tema. Em 2001 o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, da USP São Carlos, editou um folder referência para uma leitura eficiente de artigos científicos. (baixe aqui o folder e imprima-o). Um dos bons esquemas instrumentais que utilizo veio do antigo manual do Severino, que já era um "clássico" quando eu comecei a cursar História, na USP, em 1984. Achei uma versão pirata na Net, em ".txt", do ano 2000 (disponível aqui).
Ler e escrever textos (sem hyper-links) é tão velho quanto andar para frente e os passos da minha 11ª edição, de 1984, continuam válidos:
LEITURA ANALÍTICA
1. Objetivos:
- fornecer uma compreensão global do significado do texto;
- treinar a compreensão e à interpretação crítica dos textos;
- treinar o desenvolvimento do raciocínio lógico;
- fornecer instrumentos para o trabalho intelectual desenvolvido nos seminários, no estudo dirigido, no estudo pessoal e em grupos, na confecção de resumos, resenhas relatórios etc.
2. Processos:
2.1. Análise textual - preparação do texto:
- trabalhar sobre unidades bem delimitadas;
- fazer leitura atenta e rápida da unidade para se adquirir uma visão de conjunto;
- levantar esclarecimentos relativos ao autor, ao vocabulário específico, aos fatos, doutrinas e autores citados, que sejam importantes para a compreensão da mensagem;
- esquematizar o texto, evidenciando sua estrutura de redação.
2.2. Análise temática - compreensão o texto:
- determinar o tema-problema, a idéia central e as idéias secundárias da unidade;
- refazer a linha de raciocínio do autor, ou seja, reconstituir o processo lógico do pensamento do autor;
- evidenciar a estrutura lógica do texto, esquematizando a sequência de idéias.
2.3. Análise interpretativa - interpretação do texto:
- situar o texto no contexto da vida e da obra do autor, assim como no contexto da cultura de sua especialidade, tanto do ponto de vista histórico como do ponto de vista teórico;
- explicitar os pressupostos filosóficos do autor que justifiquem suas posturas teóricas;
- aproximar e associar idéias do autor expressas na unidade com outras idéias relacionadas à mesma temática;
- exercer uma atitude crítica frente às posições do autor em termos de:
a) coerência interna da argumentação;b) validade dos argumentos empregados;c) originalidade do tratamento dado ao problema;d) profundidade de análise do tema;e) alcance de suas conclusões e conseqüências;f) apreciação e juízo pessoal das idéias defendidas.
2.4. Problematização - discussão do texto:
- levantar e debater questões explícitas ou implícitas no texto;
- debater quetões afins surgidas no leitor.
2.5. Síntese pessoal - reelaboração pessoal da mensagem:
- desenvolver a mensagem mediante uma retomada pessoal da mensagem e um raciocínio personalizado;
- elaborar um novo texto com redação própria, com discussão e reflexão pessoais.
Cada um desses processos implica em atividades distintas, que resultam em diferentes instrumento de textos, conforme a tabela a seguir:
Adaptado de: SEVERINO, Antônio Joaquim - Metodologia do trabalho científico: diretrizes para o trabalho didático-científico na universidade. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 1982. p.96-98.
Como exigência nas atividades de aula tenho passado as seguintes orientações (com as ressalvas de que trata-se de uma instrução formal de aula e que indica aspectos possíveis de serem abordados, sem ser um formulário):
"Resenha crítica é entendia como uma análise interpretativa devendo abranger os seguinte aspectos:
- - situar o texto no contexto da vida e da obra do autor, assim como no contexto da cultura de sua especialidade, tanto do ponto de vista histórico como do ponto de vista teórico;
- - explicitar os pressupostos filosóficos do autor que justifiquem suas posturas teóricas;
- - aproximar e associar idéias do autor expressas na unidade com outras idéias relacionadas à mesma temática;
- - exercer uma atitude crítica frente às posições do autor em termos de:
a) coerência interna da argumentação;
b) validade dos argumentos empregados;
c) originalidade do tratamento dado ao problema;
d) profundidade de análise do tema;
e) alcance de suas conclusões e conseqüências;
f) apreciação e juízo pessoal das idéias defendidas.
Boa noite.
ResponderExcluirAtuo como docente na área de Letras e fiquei muito interessado "nos esquemas instrumentais do antigo manual do Severino". Entretanto, ao clicar no link para fazer o download do arquivo ocorre algum tipo de erro. Caso seja possível disponibilizá-lo novamente, serei muito grato.
Atenciosa e cordialmente,
Cleber Cabral.
Cleber,
ResponderExcluirNa verdade o "tipo de erro" foi tirarem a cópia pirata do ar, em respeito aos direitos autorais. Com um pouco de esforço é possível achar outra cópias on-line, ou adquirir mesmo a obra (vale à pena).
O blog apresenta dicas preciosas de metodologia! Possui conteúdo bastante enriquecedor na área! Parabéns!
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