Ambiente virtual de debate metodológico em Ciência da Informação, pesquisa científica e produção social de conhecimento

segunda-feira, 31 de maio de 2010

IV CNCT&I: um balanço ácido


Na semana passada ocorreu em Brasília a IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O evento teve lugar em hotel luxuoso. Foi hiper concorrido e quem quis comparecer in loco foi obrigado a estacionar longe do hotel e submeter-se a um caminhada light, bem luminosa, considerando o escaldante sol do cerrado. Minha observações, reconheço, são bem ácidas, infelizmente. Espero que as discordâncias e a ênfase de aspectos positivos sejam postadas nos comentários, com o intuito de minimizar os aspectos negativos que aponto aqui.


No fundo achei que foi puro marketing apesar de algumas boas falas. A maioria do que foi dito me pareceu o supra-sumo daquilo que é o nosso melhor produto científico: indicadores. Temos indicadores maravilhosos. Azar da realidade que não condiz com eles. Vi representantes de fundações de amparo à pesquisa estaduais semi-analfabetos falando que é preciso aproximar mais a ciência do mercado e a universidade da academia!!! Qual academia? Aquela do Oscar? Vi também pesquisadores sérios que colocaram sim o dedo na ferida e mostraram que nem tudo são flores e apresentaram ótimos anti-indicadores... Excelentes palestras. Pena que foram poucas e pena que não representaram a tônica geral do evento. Em  termos práticos não vi nada de vmuito concreto que apontasse para a superação das deficiências atuais. 

A impressão geral foi de um grande evento mais preocupado em ampliar os laços ciência-mercado do que em aprimorar as bases estruturais da ciência-ciência. Sem essa última a questão do mercado fica muito complicada.


Ouvi dizer que o custo do evento foi de mais de R$ 4 milhoes. Não sei se as cifras são mesmo essas, mas não vejo sentido algum em gastar dinheiro público, da C&T para "bombar" as inscrições, que não seja um forte apelo de marketing: tantos mil inscritos compareceram. Passei no evento na tarde do primeiro dia. Ainda estavam sendo feitas inscrições, apesar de não haver mais espaço para caminhar para as palestras. A sessão que escolhi para assistir tinha gente embolada na rua, na frente do hall que antecede o saguão sem conseguir entrar. Imaginei: nossa! a sessão está mesmo concorrida. Não era isso: a plenária estava semi vazia, porque tratava-se do mesmo local onde o presidente Lula faria 4hs mais tarde um discurso sobre nossa maravilhosa política de CT&I. Detectores de metais e outras medidas de segurança impediam o acesso dos interessados à plenária.


Vi também milhares de publicações (de excelente qualidade gráfica, e custo compatível com tal luxo) desesperadas para serem doadas. Publicações publicitárias de empresas governamentais que versavam sobre as maravilhosas realizações e projetos em CT&I, Não pude deixar de pensar em como é difícil manter boas revistas científicas no Brasil e em quão dispendioso é publicar, em papel, tais revistas. O alto custo da edição tem sido, há muito tempo, o calcanhar de Aquiles que atrasa e, muitas vezes, derruba bons projetos editoriais. 

Além de uma bolsa de lona, com um desing maravilhoso (será excelente para transportar meu material da aula de metodologia), ganhei também um "voucher vale-lanche". Como, em função das dificuldades de acesso às plenárias, voltei para casa para assistir a conferência via web, não pude degustar a iguaria gourmet.


O fato é que muito pouco se discutiu sobre ciência, no sentido da troca e debate de idéias (comunicação "n" para "n") . Um pouco foi dito sobre ciência por renomados cientistas, porém de modo unilateral (comunicação um para "n"). Muito se falou sobre indicadores e sobre o maravilhoso patamar atual por ilustres ocupantes de cargos, alheios aos fundamentos da ciência (comunicação "blá-blá-blá", ou "n" para zero).

Vamos ver o que os leitores do blog acharam do evento...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Como começar a coletar material científico para uma pesquisa


SEQUÊNCIA DE PROCEDIMENTOS PARA BUSCA DE MATERIAL INTRODUTÓRIO PARA TRABALHOS CIENTÍFICOS

Jacaono Batista de Lima Júnior *
  1. Estabeleça as palavras-chave de sua pergunta ingênua ou de partida, pois todas as bases de dados indexadas de acesso da Capes trabalham com palavras e termos chaves (realizei curso de uma semana na Capes sobre isso);
  2. as palavras-chave devem ser traduzidas para o inglês;
  3. selecione o local de indexação; inicialmente recomendo o Web of Science pois este é multidisciplinar e trabalha quase que totalmente com os resumos ou títulos;
  4. selecione, através das palavras-chaves (com ou sem o auxílio de termos AND ou OR) os títulos mais relacionados à pergunta proposta (ainda não é para ler o artigo);
  5. se for utilizar filtros, comece pelo OR e depois passe para o AND na pesquisa;
  6. elimine alguns títulos ao realizar uma revisão mais clara de cada um;
  7. agora parta para os resumos, selecione os melhores títulos e, por ordem de qualidade (Qualis da revista, proximidade com o seu tema...) e comece a lê-los, descartando aqueles que, por ventura, não sejam adequados ao trabalho;
  8. salve os resumos selecionados e siga para outro local de indexação (Science Direct, Scopus, entre outros, relacionados a temática de TI, por exemplo, ou outros específicos da sua área, não mais multidisciplinar);
  9. com os resumos e títulos, busque os artigos e parta para a leitura dos mesmos;
  10. descarte os artigos que, por ocasião da sua leitura, não se adequarem ao tema proposto.
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* Capitão do Exército e bacharel em Ciências Militares (AMAN). Professor-tutor da disciplina "Metodologia de Pesquisa" do curso de especialização à distância em Gestão de Segurança da Informação e Comunicações da Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Gabinete de Segurança Institucional  da Presidência da República.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Acompanhe ao vivo a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação


A 4ª CNCTI está sendo transmitida ao vivo right now. É uma ótima oportunidade para conhecer melhor o que pensam e defendem os propositores de políticas píblicas para CT&I

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Qual seria a posição da UnB em um ranking ibero-americano?

 
O SCImago acaba de publicar o ranking ibero-americano SIR 2010, que inclui 607 IES que tenham publicado ao menos 1 artigo científico no período 2003-2008, nas revistas incluídas na base Scopus, abarcando mais 17.000 revistas. O ranking traz indicadores sobre a pesquisa nas universidades, analisando a produção de documentos científicos, a capacidade para realizar pesquisa em colaboração com outros países e a visibilidade/impacto científico da produção.

O ranking pretende ser uma ferramenta -- representativa e esquemática, porém significativa -- sobre a quantidade e qualidade das pesquisas desenvolvidas nas universidades ibero-americanas. Objetiva alcançar aos responsáveis pelas políticas públicas de fortalecimento à pesquisa no âmbito ibero-americano, assim como a esfera decisória dos programas de CT&I. Também é dirigido aos próprios gestores institucionais de recursos de pesquisa, como uma ferramenta de bechmarking.

Aqui no Brasil (para não falar do “grande” instrumento técnico que é o Guia do Estudante da Abril) continuamos com os fictícios relatórios do INEP, cujo acesso é sempre problemático, além dos indicadores produzidos pelo COLETA-CAPES...

Sugestão de atividade:

1. Antes de ler o relatório, indique qual a posição do ranking que você imagina para:
   a) USP;
   b) UNAM (México);
   c) UNICAMP;
   d) UnB.
   Lembre-se, são 607 posições e NÃO VALE espiar antes.

2. Acesse o documento na íntegra (clicando aqui), confira os resultados de seu chute e comente suas conclusões.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Exercício de formulação de resumos de pesquisa


A proposta é verificar o nível de entendimento que a comunidade ligada à Ciência da Informação tem do resumo de sua pesquisa.  A atividade ocorrerá da seguinte forma:
  1. Eduardo Alentejo postará um resumo na manhã de 6ªf, dia 21/maio;
  2. o resumo deverá: 
    ter até 150 palavras,
    apresentar o problema (ou objetivo geral) da pesquisa,
    indicar qual é a base teórica,
    indicar qual é a base empírica,
    sinalizar como se dará a execução (metodologia),
    primar pela precisão e clareza;
  3. quem vier na sequência comentará o resumo anterior quanto:
    a) clareza e compreensão,
    b) precisão,
    c) sugestões;
  4. após o que deverá postar seu próprio resumo, para que uma nova rodada seja iniciada;
  5. o prazo é até às 23:59, horário de Brasília, do dia 31/maio;
  6. em 1/junho o Eduardo comentará o último resumo, encerrando a atividade. 
Atividade semelhante já foi realizada neste blog, porém com um modelo mais aberto. Clique aqui para acessar, e analise os comentários detidamente.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Evolução da Ciência


A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA

Rodrigo Fortes *

Como se faz ciência? pensar em termos de orientação científica e dos tipos de pensamento que estão envolvidos na difícil tarefa de responder a esta questão sempre nos remete a uma postura historiográfica.

Basicamente a lógica de conduta da ciência caminha por dois trilhos opostos. De um lado o ponto de vista de que a ciência é experimentalista e lógica, com o objetivo de criação de conhecimentos universais. De outro a possibilidade de observação de uma ciência falível, enveredando para uma perspectiva condicionada a um sistema histórico e sociológico. No entremeio desses dois olhares há uma mudança de foco na conduta do próprio desenvolvimento científico.

A ideia que sustenta o primeiro caminho apontado é a de que há uma lógica inerente a feitura da ciência. Abordagem que tem como maior expoente a figura de Karl Popper. Parte-se do pensamento de que dificilmente se pode confirmar ou infirmar uma dada hipótese pela experimentação (o sol nascer todos os dias não é suficiente para afirmar que nascerá daqui a 50 anos). Por isso ganha relevo o teste de falsificabilidade do autor. Jamais um cientista pode afirmar o que é verdadeiro por intermédio da lógica, mas sim apontar o que é falso por aplicação da experimentação. Assim, só o que é verificável pode ser considerado científico.

Será?

Historicamente há exemplos de que a verificação de falsificabilidade de uma hipótese não é suficiente para refutá-la em termos científicos. Havia uma anomalia na órbita do planeta mercúrio que impedia que tal fenômeno fosse explicado pela lógica da teoria de Newton. E dai, refutou-se a teoria? Claro que não.

Nos anos 60 do século passado, uma única experiência anunciou a descoberta da partícula Omega. Como assim, aceita com um único teste? Por que então tais teorias são aceitas na história da ciência? Pelo simples motivo de que são o elo que falta para fechar harmoniosamente alguma teoria. Por isso, a história da ciência não dá apoio à teoria popperiana da racionalidade científica.

A razão por que é assim que funcionam os paradigmas da ciência tem uma só explicação: a de que ela é feita por seres humanos. Não são deuses que fazem experimentos em tubos de ensaios isolados do momento histórico de feitura de sua aplicabilidade (ideia bem apresentada por Tomanik). São homens em sociedade, vivendo e sofrendo as realidades sociais a que estão integrados.

Esse seria o recheio que faz com que a ciência passe de uma tentativa lógica-experimental de explicação dos fatos para uma perspectiva condicionada ao fator histórico-social. Kuhn (1962) , no clássico A Estrutura das Revoluções Científicas, acentua a crítica e engrossa o caldo da discussão. Segundo o autor, um paradigma é aceito não porque ele resiste ao teste de falsificabilidade, mas sim porque uma comunidade X o aceita temporariamente. "Preconceito e resistência parecem ser mais a regra do que a exceção no desenvolvimento científico avançado (Kuhn, 1962)".

Ao que parece, o cientista está o tempo todo sendo aterrorizado pelo fantasma do sonho, da fantasia do perfeito possível. Mas ao acordar, banhado de água fria, fica querendo que os sonhos possam ser traduzidos pela insuficiência da linguagem humana. Assim o sonho vai sendo manchado pela vivência do real; pelos problemas que o cientista carrega consigo. E que seja assim. É a impossibilidade do sonho que transforma o real. E a noção do falível que nos traz a vontade de tentar.


* Rodrigo está na ponta final da escala evolutiva representada abaixo, fazendo mestrado em Ciência da Informação na UnB; também é responsável pelo blog "Usuáriosemarquivos!" e co-resposável (ou cúmplice) pelo blog "Diplomática e tipologia documental (UnB) - De re-diplomatica: novos usos à antiga arte". Acesse aqui seu Lattes.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

XI Enancib



O Rio de Janeiro aguarda a submissão dos trabalhos para o XI Enancib (Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Infomação), que será realizado no Rio de Janeiro. O ENANCIB é o evento nacional da ANCIB (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação) que tem como objetivo principal promover a comunicação de pesquisas científicas no âmbito da CI. Você não pode ficar de fora de um dos eventos mais relevantes da nossa área! Veja as regras de submissão dos trabalhos e prepare as malas para mais uma viagem em busca de conhecimento.

Local: Rio de Janeiro
Data: 25/10 a 28/10
Prazo para submissão de trabalhos: até 15/07

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Tudo o que você sempre quis falar sobre "Social Bookmarking" e nunca teve coragem de dizer

Imagem: Iuzuri

Está em andamento uma pesquisa sobre aplicativos de redes sociais na Internet e a sua utilidade na oferta de produtos de serviços de informação on-line. A primeira etapa de coleta de dados é identificar se...
  • Você sabe o que é social bookmarking.
Participe da enquete on-line no blog "Guia de literatura da Web" clicando aqui.


São duas etapas de resposta: 
1º Etapa - Responda a enquete, localizada no menu direito.
E
2º Etapa - Deixe um post confirmando seu voto (SIM ou NÃO), coloque o ano do seu nascimento. E, no caso de conhecer alguma ferramenta, especifique o nome delas. 


Mais informações sobre a pesquisa, dúvidas ou sugestões, entre em contato com a pesquisadora (mairamurrieta@gmail.com).
E
Navegue amplamente pelo blog da pesquisa de mestrado em  http://guialiteratura.blogspot.com


Imagem: Iuzuri

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Convite - Exame de Qualificação de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação


Todos estão convidados para a defesa de Exame de Qualificação de Doutorado do  aluno Eber Luis Capistrano Martins, conforme dados abaixo:


Título: "Monitoração ambiental e orientação empreendedora por oportunidades na micro e pequena empresa (MPE): estudo dirigido a empresários do comércio varejista de materiais para construção de Cuiabá-MT".

Membros da Banca Examinadora:
  • Prof.ª Dra Marta Lígia Pomim Valentim -UNESP/Marília;
  • Prof.ª Dra Sofia Galvão Baptista - UnB/PPGCInf;
  • Prof.ª Dra Lillian Maria Araujo de Rezende Alvares - UnB/FCI - (suplente);
  • Prof. Dr. André Porto Ancona Lopez - UnB/PPGCInf - (orientador)

Dia:
14/05/2010  ( Sexta-feira )
Horário: 09h30min
Local: Auditório FCI

Resumo:

A monitoração ambiental e o uso da informação para negócios relacionado à organizações de micro e pequeno porte (MPE) pode ser considerado como um abrangente campo para desenvolvimento de investigação pela Ciência da Informação. As características das MPEs em termos de cultura organizacional e informacional, determinadas pelos empresários dirigentes, podem impactar o seu nível de competitividade no ambiente de negócios. A monitoração ambiental como um processo de busca por informação para negócios com valor agregado incorpora uma realidade onde poucos estudos a relacionam com as MPEs e tendem a não aprofundar nas questões específicas do ambiente de mercado. A crescente competitividade nesse ambiente repercute na maior exigência do uso de informação de valor agregado a partir de processos de inteligência competitiva que sejam capazes de gerar  capacidade de planejamento e gestão estratégica criadora de valor. Este contexto pode ser relacionado a aceitação da orientação empreendedora por oportunidades como uma diretriz estratégica para o melhor desempenho de mercado das MPEs. A presente pesquisa aproxima os processos de monitoração ambiental e uso da informação para negócios de valor agregado com a orientação empreendedora por oportunidades em MPEs, a partir do entendimento do perfil empreendedor do empresário e do desempenho competitivo de mercado dessas organizações. Este fenômeno será analisado junto ao comércio varejista de materiais de construção localizado na cidade de Cuiabá-MT. Este segmento econômico é característico pela presença de um nível intensivo de competitividade concorrencial e pressão no ambiente de mercado, a partir de exigências dos clientes em termos de satisfação, reclamação e recomendação. Projeta-se a combinação de metodologias descritiva e exploratória, aplicadas aos empresários dessas organizações MPEs.

Novo cronograma, até a aula 7, by Maíra



AULA 4 - 20/05 - 3 atividades:
  • 1. Apresentação do pré projeto de pesquisa no Blog. Cada aluno terá 5 min.; 
  • 2. Discussão sobre os projetos de pesquisa de doutorado do Prof. André e Prof. Antônio (acessar aqui); 
  • 3. Discussão sobre o Cap. 4 do Livro do Tomanik.

AULA 5 - 27/05 
  • 1. Participar da 4 Conferencia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. TEM QUE SE INSCREVER ANTES, É de graça. (acessar por aqui). 

AULA 6 - 10/06 - 2 atividades: 
  • 1. Apresentação do Seminário 1 - Grupo 1 (Mauricio; Claudiia; Jonas, Georgea). TODOS DEVEM LER a tese de Paulo Elian (acessar aqui). O foco é a definição do escopo. 
  • 2. Discussão dos Cap. 1 e 2 do Livro do Tomanik. 

AULA  7 - 17/06: 
  • Apresentação do 2 Seminário - Grupo 2 - (Adriano, Andrea, Geovane). Depois faço as corretas indicações de foco do seminário, link para o texto base e textos de apoio.

Advertência do MMCT

Imagem: Iuzuri

O Ministério da Magia, Ciência e Tecnologia adverte que as eventuais críticas aos projetos aqui apresentados, feitas no blog ou em sala de aula, pelo professor, por alunos, ou por internautas, têm apenas o intuito de fomentar o debate, promover a reflexão crítica e auxiliar no processo de amadurecimento de cada pesquisa analisada. Não há nenhuma preocupação, interesse, ou perspectiva de "interferir" nas pesquisa. As dúvidas e incertezas que podem surgir de um processo crítico devem ser resolvidas por cada aluno em conjunto com o respectivo orientador. O amadurecimento de uma pesquisa e de um cientista deve, necessariamente, contar com um processo de ampla discussão e análise crítica que seja mais vasto do que o aconchego do direcionamento preciso, seguro e inquestionável do orientador. A ciência, por definição, é feita pela constante prática de questionamento das certezas. Um bom cientista deve ser capaz de receber críticas fundamentadas e utilizá-las como parte de seu processo de constante aprimoramento. 

4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação


A 4ª CNCTI vai debater e formular propostas voltadas para a consolidação de uma política de Estado, Ciência, Tecnologia e Inovação, tendo em vista o Desenvolvimento Sustentável do País.  Trata-se de uma agenda estratégica para o futuro da Nação e que requer a participação efetiva de representantes dos órgãos públicos, empresários, comunidade científica e organizações da sociedade civil.

Inscrevam-se aqui até o dia 19/05.

Poderíamos todos nos inscrever e transferir a aula do dia 27 para lá. O que vocês acham da ideia?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Educação: para onde vamos?


Continuando a discussão sobre os rumos da universidade brasileira, o Correio Braziliense de ontem publicou um ótimo texto de Issac Roitman sobre o papel da universidade para alavancar o desenvolvimento nacional e sobre a importância de o país ter uma postura real, condizente com o discurso, que até o momento, historicamente falando, não ultrapassou os limites da demagogia política. É importante ainda alertar para o perigo do investimento maciço, sem qualidade, no ensino básico às custas do sucateamento (estrutural e pessoal) das universidades públicas.

Sugestão de atividade:

Leia e comente o texto abaixo:
Educação: para onde vamos?
Isaac Roitman
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
Na maioria dos países, os sistemas educacionais estão sendo revistos. Espera-se que a educação prepare os jovens para o mundo do trabalho, para sua independência econômica, para que eles possam viver de forma construtiva em comunidades responsáveis e para que possam conviver e compreender a diversidade cultural de uma sociedade que se transforma de uma forma muito rápida. Espera-se que a educação ajude os jovens a construírem suas vidas em um cenário de futuro que ninguém com certeza pode predizer. 
No Brasil, há muitas décadas todos os governos proclamam que a educação é sua meta prioritária. Proclamação demagógica e enganosa. Segundo todos os índices e pesquisas nacionais ou internacionais, a qualidade da educação brasileira é cada vez mais vergonhosa, constituindo-se como a maior das tragédias nacionais. O papel do educador enquanto facilitador da liberdade de aprendizagem para transformar socialmente os indivíduos não passa de uma intenção não concretizada na educação brasileira. 
Ainda durante 2010 o Congresso Nacional definirá o Plano Nacional de Educação (PNE), estabelecendo as metas e prioridades para o período de 2011 a 2020. A discussão será baseada nas proposições que deverão emergir da Conferência Nacional de Educação (Conae), evento que terminou no início de abril. Certamente, nossos parlamentares terão um cardápio de ações relevantes para a melhoria da qualidade de educação em todos os níveis. 
O PNE atual, assim como os anteriores, deverá pautar as ações necessárias em várias dimensões para mudar o cenário da educação do país: 1. Qualificação de professores com formação científica atualizada, adequada e comprovada; 2. Condições de trabalho que permitam a atualização permanente e acesso às metodologias modernas do ensino e aprendizagem; 3. Remuneração atrativa; 4. Substituição de conteúdos inúteis por exercícios de criatividade, crítica e de resolução de problemas; 5. Arquitetura escolar adequada; 6. Gestão eficiente; e 7. Avaliação interna e externa. Ou iniciamos agora uma verdadeira revolução na educação ou estaremos a lamentar nas próximas décadas ter perdido mais uma oportunidade de sermos protagonistas da transformação social que nosso povo merece. 
Sempre é bom lembrar e destacar que há algumas décadas vários países decidiram eliminar a tragédia da educação que os assolavam. Esses países não estavam em situação muito diferente da nossa. Vamos lembrar o exemplo da Coreia do Sul, que na década de 50 do século passado estava destruída por uma guerra civil que dividiu a Coreia ao meio e a maior parte da população vivia na miséria. Um em cada três coreanos era analfabeto. Hoje, oito em cada 10 chegam à universidade. 
A transformação começou com uma lei — integralmente respeitada — que tornou o ensino básico prioridade. Inicialmente, os recursos foram concentrados nos primeiros oito anos de estudo. Os frutos dessa decisão não demoraram a serem colhidos. O país começou a crescer rápido, em média, 9% ao ano, durante mais de três décadas. Hoje, graças à sólida massa crítica de cientistas que forma todos os anos, a Coreia está pronta para entrar no Primeiro Mundo, tendo como cartão de visita uma incrível capacidade de inovação tecnológica. 
Poderíamos pensar que os coreanos perderam a inquietação dos anos 1950. Ledo engano. Em dezembro de 2009, um documento foi elaborado pelo Ministério da Educação e Ciência e Tecnologia daquele país: Políticas e planos para 2010. Uma das metas seria o estímulo à criatividade na educação, sobretudo na básica. A meta envolvia a redução dos conteúdos e o incentivo ao domínio das linguagens, da matemática, dos estudos sociais e da ciência, da consciência da diversidade cultural, da habilidade para solução de problemas e da capacidade de trabalhar em grupos. 
Temos que decidir agora qual país legaremos aos nossos descendentes. Se nada fizermos, seremos no futuro uma sociedade com graves injustiças sociais, com índices assustadores de violência, com total desrespeito ao próximo e outras mazelas amplificadas que temos no presente. Certamente seremos um país colonizado e explorado. O futuro da educação está em nossas mãos. Cabe a todos nós decidir para onde vamos. 
Fonte: Correio Braziliense, 11/05/2010. p.19

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ciência ao meio-dia


Ocorrerá nesta 4ª, 12/06, bate-papo sobre O uso de blogs no ensino de graduação: relatos de experiencia no ensino médico e em cursos de Ciência da Informação, coordenado pelos profs. Marcelo Hermes Lima e André Porto Ancona Lopez.

Local: auditório da Faculdade de Ciência da Informação (ex- Departamento de Ciência da Informação-CID), ao lado da biblioteca.

Divulgue e compareça.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Pesquisa mostra que das duas uma: os homens são mentirosos ou gays.


O eterno problema da solidez dos dados e da sistemática da pesquisa voltou à tona no início de maio, quando o Correio Braziliense resolveu reproduzir dados de pesquisa sobre sexualidade da população brasileira (baixe aqui a reportagem completa). A reportagem, tal qual um papagaio bem treinado, limita-se a reproduzir os gráficos (ou elabora gráficos com dados da pesquisa, não fica claro) de um obscuro projeto chamado "Mosaico Brasil", que supostamente entrevistou 8 mil pessoas. Ao googlar "Projeto Mosaico Brasil" não fui direcionado para nenhuma página específica, apenas para notícias papagaiescas similares. O Lattes da pesquisadora apenas menciona o projeto no resumé, sem dar maiores dados em nenhum outro campo. Uma apresentação em power point, de 2008, com números "n" bem inferiores a 8.000 está disponível na web.

Sugestão de atividade:
Analise o gráfico abaixo e explique a discrepância entre os dados de frequência sexual entre homens e mulheres.

Esclarecimento: a ilustração do post não tem nada a ver com a pesquisa "Mosaico Brasil", mas pela seriedade apresentada pela grande imprensa, está quase lá...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Esclarecimento sobre as eleições da ADUNB


O objetivo deste blog é ser um instrumento de apoio pedagógico, que fomente à discussão sobre metodologia em ciência. As questões institucionais são entendidas aqui como indissociadas do processo de produção de conhecimento científico. Uma das falsas polêmicas discutidas por todas as "facções" da greve é sobre a questão ser política ou jurídica. Na minha opinião, ambas e nenhuma, porque o ponto mais importante têm sido relegado que é o aspecto CIENTÍFICO. 
Fiquei positivamente surpreso com o link do blog estar presente em uma das chapas, a despeito de eu não haver manifestado publicamente meu apoio a nenhuma delas. Espero que algumas das questões que coloco aqui sejam, de fato, discutidas no âmbito da Associação de Docentes da UnB, que não pode ser apenas um movimento sindical, desvinculado das questões científicas. Tomara que esse tipo de atitude seja replicado e que, independentemente de qual venha a ser o resultado do pleito, a ADUNB passe a se preocupar também com as questões de fundo relacionadas à produção do conhecimento científico, que é a nossa principal expertise e obrigação como docentes de universidades publicas. A dedicação integral é pensada justamente para que possamos nos dedicar à pesquisa. Por essa razão, omito-me de declarar publicamente minha preferência por esta ou aquela chapa e, ao invés disso, busco fomentar o debate científico a partir das propostas de cada uma delas.

Sugestão de atividade:
Acesse as páginas de ambas as chapas e:
a) analise o espaço dado às questões científicas;
b) acesse os Lattes dos componentes e verifique se a vivência científica dos docentes-candidatos é condizente com as propostas científicas;
c) analise a existência de links extra-página que remetam para urls dedicadas à ciência e à pesquisa.

Eis os links de cada chapa:

terça-feira, 4 de maio de 2010

Qual é a universidade que temos e qual a universidade que queremos?

Em recente divulgação via blog o renomado professor Simon Schwartzman esboçou uma proposta para modificação da pós-graduação brasileira, com severas críticas ao sistema atual, baseado na extrema centralização pela CAPES. (acesse aqui o post no Simon's Blog; acesse aqui o texto integral). Tive contato coma a proposta dois dias após ter a ingrata surpresa de ver que meu contracheque deste mês não contemplaria o prometido pagamento das gratificações atrasadas, anunciado pela autoridade máxima da UnB (acesse aqui uma análise sobre a incongruência das informações oficiais e reais). O clima de ceticismo me acompanhou na leitura do documento do Prof. Simon. Na oportunidade fiz alguns comentários mais genéricos sobre as linhas mestras da proposta, mais voltados para problemas de implementação (acesse aqui os comentários, com a resposta do prof. Simon). 
Alguma horas depois o TRF deu perda de causa ao SINTUB, com decisão de corte de 26,05% dos vencimentos dos funcionários da UnB, com indicativo de ainda terem que ressarcir ao erário retroativamente os valores já recebidos. Isso equivale, grosso modo, que cada funcionário deve ao erário 1 ano de trabalho para cada 4 anos trabalhados. Como a ação dos professores ainda não foi julgada, nada impede que o mesmo tipo de olhar seja aplicado no nosso caso. A despeito da nota oficial da reitoria sobre o pagamento integral dos atrasados ainda sou credor da UnB de um valor importante para minhas despesas mensais, que fará com que nesse mês eu tenha que usar minha poupança para poder pagar minhas contas. Sou professor concursado de universidade pública, em tempo integral, desde de 1994. Oriento, publico, produzo e colaboro na administração para não conseguir fechar meu mês e ter uma ameça real (apesar de improvável) de vir a ter que dever cerca de um ano de salário pelo simples fato de ter trabalhado com dedicação??? Hoje de tarde, em conversa promovida pela ADUNB com os advogados que nos representam fiquei mais tranqüilo em saber que essa possibilidade é real, porém improvável. Por ela, eu teria acumulado em cinco anos e pouco de docência da UnB uma dívida de cerca de R$ 72.000,00 !!! Pode ser que o valor não esteja correto, mas dever por ter trabalhado é algo passível de denúncia sobre trabalho escravo às autoridades competentes. 
O que isso tem haver com a proposta do Prof. Simon? Tudo e nada ao mesmo tempo. Por um lado não dá para direcionar a vivência e as atividades científicas da universidade para as demandas economicistas e trabalhistas, sob o risco de cair no aparelhamento ideológico, que em nada contribui para o desenvolvimento da ciência. Por outro lado sem professores e funcionários ganhando dignamente (ou pelo menos não vindo a perder o não tão digno salário) não dá para ter condições mínimas de se produzir ciência. Durante a greve tenho tentado trabalhar nos blogs, na orientação de alunos e em pesquisa. No final de semana fechei um artigo que submeti hoje. O artigo foi finalizado tendo como pano de fundo boletins de greve, notícias confusas sobre o pagamento ou não de salários e, por fim, uma consulta bancária para ver de onde vou tirar o dinheiro para o mês. Será que outros professores universitários de países sérios têm esse tipo de preocupação? Será que é possível melhorar realidade brasileira de produção de conhecimento científico sem mexer na falida  infraestrutura universitária? Todo começo de ano recebo vários e-mails de ex-alunos de graduação que buscam conselhos para  desenvolver uma carreira acadêmica e serem professores universitários. Esse número cai a cada ano. Em 2010 uma ex-aluna, ao se inteirar da atual situação da UnB, simplesmente desistiu, me avisando que acha mais interessante estudar para algum concurso público, de carreira técnica. Hoje os alunos entram e saem do mestrado com um nível de leitura muito baixo, com poucas incursões à obras internacionais. A proposta do prof. Simon, mesmo que feita para começar no ano que vem, não terá efeitos imediatos. No período de 10 anos previstos muitos professores sairão da universidade sem serem substituídos à altura. Engana-se quem pensa que para fazer pesquisa e manter a pós funcionando bastam ter doutores. Doutores o Brasil tem produzido em uma quantidade acelerada, mas, como bem mostra o prof. Simon, sem um reflexo equivalente nos indicadores (sempre discutíveis, mas são um parâmetro) de produção científica.
O dito popular sobre o marido bêbado -- que afirma que é ruim com ele, mas pior sem ele -- se aplica bem à situação atual da UnB: se mantivermos a greve, lutamos por nossa dignidade, contra o sucateamento da universidade (e dos profissionais que nela trabalham), mas continuaremos a paralisar dois terços de suas atividades-fim (o ensino e a extensão) e a improvisar (mais ainda) com a pesquisa. Se voltamos, retomamos as atividades "normais", podendo até sonhar com melhores dias para a pós-graduação, porém assinando em baixo do achacamento sofrido pelos funcionários, que, se voltarem às atividades, estarão 35% menos motivados para desempenhar as atividades-meio, fundamentais para o bom (?) funcionamento da instituição. Por outro, lado, a persistência da greve, que começa a perder fôlego, parece ser incapaz de alterar esse quadro de coisas...
SUGESTÃO DE ATIVIDADE:
a) ler e comentar o artigo do prof. Simon;
b) indicar seu posicionamento quanto à pertinência ou não da continuidade da greve, seguido de justificativa. Aqueles que são favoráveis ao fim da greve podem assinar o abaixo-assinado blogal do Marcelo Hermes Lima clicando aqui.