Ambiente virtual de debate metodológico em Ciência da Informação, pesquisa científica e produção social de conhecimento

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

McTese Feliz! (Supersizing)

Fonte: http://ragamuffinsoul.com/
Recebi um excelente artigo do amigo Fernando Franca publicado na revista Pragmatismo Político (AQUI). Em julho deste ano a revista em questão discutiu um tema relevante, abordado vários momentos aqui neste blog: a doença da normalidade que assola a produção de conhecimentos acadêmicos. 

Podemos imaginar Peter Higgs, vencedor do Prêmio Nobel de Física de 2013, num mundo acadêmico envolto pelo fantasma do "produza ou pereça"? Onde estão as ideias originais que necessitam de tempo de maturação para aprimoramento? Com sistemas de avaliação cada vez mais focados em produtividade a "normose" acadêmica faz como vítima o próprio conhecimento. Randy Schekman, Prêmio Nobel de Medicina deste ano, argumenta que a pressa intensifica a improbabilidade de opção por trabalhos mais relevantes em detrimento da perseguição aos campos científicos da moda. Schekman vai além ao afirmar que devemos evitar de avaliar o mérito acadêmico pela produção de artigos.

Os ex-ganhadores de Nobel Prizes destacam que a qualidade das pesquisas são influenciadas diretamente pela meritocracia produtivista dos sistemas de avaliação de pesquisadores e pelos professores dos programas de pós-graduação que impedem os discentes de percorrer caminhos mais incômodos. Esse sistema os transforma em meros burocratas da produção de replicações científicas. A exigência de produção é um estímulo retroalimentador do status quo, reforçando a mensagem subliminar de que fugir ao normal é perigoso. Em outras palavras, os pesquisadores não devem trocar o certo pelo duvidoso, não sendo incentivados a tomar caminhos mais arriscados.

Ao que parece, a meritocracia produtivista traz as ilusões de progresso e eficiência que não podem nunca se realizar. Isso porque a própria burocracia se tornou uma força modeladora inescapável, orientando as ações dos acadêmicos. Os meios se tornaram fins. E agora somos burocratas avessos aos riscos e às mudanças.

Isso me faz lembrar as palavras do pensador Milton Santos, também utilizado por este blog: até quando escolheremos o produtivismo estéril por simples legitimação profissional?

Vale a pena a leitura do texto e também uma boa dose de discussão.

Rodrigo Ávila

sábado, 22 de novembro de 2014

A ciência da cIÊNCIA

Dizem que em 2666, durante a realização da Copa do Mundo de futebol nas Ilhas do Caribe, a cIÊNCIA foi de fato encontrada. 

Contrastando ao ambiente intensamente florescente dos trajes usuais das festas populares daquela região, a cIÊNCIA se vestia com um terno carvão de beleza estonteante, realçado pelo azul esmeralda reluzente de uma gravata clássica, comprada na movimentada Rua Cler, próxima à Torre Eiffel. Ao adentrar o ambiente pulsante, envolvido pela musicalidade dos corpos suados pelos movimentos da salsa, a cIÊNCIA chamou atenção: utilizava um IPhone 6, conectado a uma rádio de músicas clássicas que entoava a quinta sinfonia de Beethoven.

No instante em que todos os presentes voltaram-se para observar aquela figura memorável, a cIÊNCIA se sentou numa mesa isolada ao canto do recinto. Pediu um café preto, forte e sem açucar. Algumas crianças se aproximaram. A tal cIÊNCIA fazia várias tentativas de se comunicar, mesmo sem a correspondência dos nativos e turistas que visitavam o local. Tentava dizer entusiasmadamente que participara de todos os congressos científicos de sua área, mantendo impecavelmente o seu currículo Lattes de produção semanalmente atualizado. Arrotava números, afirmando que até aquele momento do ano já tinha participado de 70 encontros nacionais, 35 simpósios, 45 mesas redondas, 98 congressos, 52 defesas de teses e 23 eventos internacionais.

A mesma cIÊNCIA vociferava as razões em crer que no futuro o mundo não enfrentaria mais o problema da fome. Com a alarmante possibilidade tecnológica de incrementar a produção de bens e produtos de consumo, afirmava que todos os seres humanos teriam condições suficientementes seguras para realizar ao menos três refeições diariamente. Esbraveja adjetivos difamadores à falácia da teoria populacional malthusiana.

A inteligente cIÊNCIA tentava explicar a todos que a razão para os enormes contigentes populacionais das prisões do mundo inteiro estava diretamente relacionada à cor da pele dos homicidas. Afirmava categoricamente que os negros e pardos tinham maior propensão a participar mais ativamente do mundo do crime. Relatava que a venda de drogas, o aborto e a deliquência juvenil tinham como única correspondência a cor da pele dos indivíduos que compartilhavam essas experiências.

A sapiente cIÊNCIA chegou ao desvario de confrontar qualquer um presente que duvidasse da possibilidade dos grandes navegadores em alcançar as Índias, mesmo que para isso tivessem que fingir que descobririam uma outra terra que poderia se chamar Brazil. Para ela, não havia dúvida alguma de que todos os instrumentos desenvolvidos até então propiciariam a descoberta de novas terras por mares nunca d'antes navegados. E que batizaríamos os habitantes dessas terras de Índios, mesmo se também pudessem se chamar brasileiros.

A mesma cIÊNCIA tentava se fazer entender e dizer que esses "Índios" deveriam ser civilizados por brancos e europeus escolarizados. Que a civilização europeia traria todas as condições possíveis para dizimar as mazelas e as doenças daquela gente inocente; daqueles povos que não tinham condições razoáveis de utilizar o intelecto para realizar simples operações matemáticas. 

A cIÊNCIA se levantou e foi ao banheiro, gritando em alto e bom som: cogito ergo sum! cogito ergo sum! cogito ergo sum! Todos se entreolhavam e batiam palmas admirados.

No banheiro, a cIÊNCIA começou a esbravejar em voz alta aos presentes que já tínhamos todas as razões suficientes para entender que a menor partícula da matéria era indubitavelmente o átomo. E que o homem estaria muito próximo de descobrir a vida em outros planetas, porque assim poderíamos expandir os lucros cada vez mais volumosos das industrias de fast-food e mandar para espaços distantes os participantes de movimentos sociais que participassem das manifestações de rua contra a corrupção de governos cada vez mais transparentes. Adicionava ainda que as tecnologias verdes desenvolveriam a capacidade de compactuar intenso desenvolvimento econômico com ambientes de produção sustentáveis, respeitando o ritmo de funcionamento do meio ambiente.

Voltou do banheiro gargalhando pelo simples fato de que teríamos condições claras de prever todas as crises econômicas. Aliás, retificou o seu comentário escrevendo com um giz negro no quadro branco do bar o teorema que acabara de ganhar o Prêmio Nobel de Economia por demonstrar claramente o fato de que não teríamos mais crises econômicas no mundo, pois a inflação e a taxa de câmbio seriam fenômenos completamente controláveis por mercados livres dos países em desenvolvimento.

Diante de todos os aplausos por suas palavras incompreensíveis, a cIÊNCIA pediu a conta fazendo um gesto universal. Pagou o seu café enquanto todos a observavam estupefatos. Limpou o suor com um lenço branco importado que trazia no bolso de sua calça. Com todos de pé, aplaudindo, cantando e dançando a salsa que voltava a tocar após o silêncio ensurdecedor daquelas palavras inaudíveis, a cIÊNCIA correu pela porta dos fundos. Todos os presentes se espremeram à minúscula porta de saída. Algumas pessoas choravam emocionadas, machucando-se na tentativa de seguir a tal cIÊNCIA. 

Quando enfim conseguiram sair do ambiente, não conseguiram entender o que aconteceu...

P.S: A nossa personagem foi encontrada depois de algumas décadas numa manifestação de rua num país distante chamado Brasil. Naquele momento tão singular da história daquele país, milhares de cidadãos foram às ruas na esperança de conseguir melhores condições para lidar com as suas batalhas diárias. A famigerada cIÊNCIA foi flagrada comendo um sanduíche de presunto, sentada numa calçada, de bermuda, sem camisa e descalça. Segurava um cartaz com letras grandes e coloridas, recortadas do último jornal de domingo, formando a palavra ÉTICA!

* Rodrigo Ávila

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Formar ou deformar?

Márcio Zardo. "Formar é formar?"Instalação (2007).
Ao ver a imagem acima no Facebook de minha amiga (e mais nova integrante do GPAF) Isabela Frade, não pude deixar de pensar na árdua tarefa que vem sendo buscada neste blog há mais de 4 anos e meio: desenformar a cabeça de novos pesquisadores, de cientistas em construção; desenformar para que possam ousar pensar sem as tão típicas viseiras dos "manuais" """científicos""" (com aspas triplas); desenformar a postura corporal (que faz com que os glúteos fiquem quase sempre molecularmente imbricados a uma carteira discente) e ter o atrevimento de ousar. Ousar escrever, ousar publicar textos inciais (mesmo que em um blog), ousar apresentar-se publicamente (mesmo que no pátio da faculdade com um banner), ousar comentar ideias já consolidadas ao invés de apenas reproduzi-las etc. Enfim: ousar pensar. 

Do pouco que conheço em ciência sei que quanto mais assertivas são as afirmações, mais vulneráveis elas serão no futuro. Mesmo assim, de momento, há algumas "verdades" que parecem ser bastante razoáveis, como, por exemplo: (a) compreender que para haver inovação em ciência é necessário uma boa dose de imaginação; (b) saber que sem imaginação e criatividade não pode haver inovação científica; e, mais ainda (para completar o relação de afirmações com a mágica quantidade de três) (c): ter a certeza de que tais qualidades não podem ser "treinadas", "ensinadas" e/ou estandardizadas 

O problema é que nós, pesquisadores mais antigos (ainda em constante construção, espera-se), temos uma tendência ao comodismo intelectual que nos faz, cada vez mais, buscar repetir soluções criativas anteriores (se faz necessário um parêntesis aqui para diferenciar o amadurecimento da criatividade da repetição de fórmulas que, um dia, foram criativas). O ideal seria que nossa capacidade de imaginar, de ousar, de desenformar, nunca se perdesse e fosse, com o tempo, sempre mais criativa, porém, em geral, isso não se verifica. De qualquer modo, estamos todos fadados ao inexorável destino de ter que um dia (por opção, por comodismo, ou por fatalidade) deixar de ser criativos e parar de contribuir com a inovação científica (o que não significa, em hipótese alguma, parar de sermos "produtivos", e/ou de publicar e cada vez mais solidificar nossos currículos, ou nosso legado, no caso de fatalidades).

O mais assustador da instalação de Márcio Zardo é o nível de correspondência que ela tem com a realidade (se não fosse pelas fôrmas nas bases das carteiras não haveria qualquer metáfora na obra). O assustador não é testemunhar gente de mente velha defendendo que a "formação" científica se dá, justamente, pelo sentido literal do termo (com fôrmas); o que aterroriza não é ter um grupo de gente de mente velha agrupado em comitês e associações dedicando-se a estabelecer parâmetros milimétricos para cada fôrma mental; o que apavora não é ter que se defrontar com gente de mente velha gastando a parcela final de sua lucidez mental para fiscalizar o cumprimento das "diretrizes" estipuladas, como guardiães da "integridade" e "qualidade" científicas; o que realmente amedronta é ver gente jovem, de mente velha, negando a própria juventude, convertendo-se, sem nenhum questionamento, em fiéis escudeiros da ordem e da fôrma, reproduzindo fórmulas arcaicas e negando-se, veementemente, a sair da casca.

Para completar a provocação, tão bem iniciada por Márcio Zardo, sugiro que cada leitor responda "sim" ou "não" para as questões abaixo:
  1. Você ousaria colocar uma ilustração na capa de sua tese/dissertação?
  2. Você se atreveria a escrever sua tese/dissertação em fonte que não fosse recomendada pela a ABNT (por exemplo em "Bookman old stlye")?
  3. Você arriscaria entregar uma tese/dissertação sem um capítulo de "conclusão"?
  4. Você entregaria um artigo para publicação sem usar a ABNT para fazer as referência bibliográficas?
  5. Você acha possível que uma tese de doutorado não tenha um capítulo específico para a metodologia?
  6. Você acha que uma pesquisa científica pode não almejar a comprovação de hipóteses?
  7. Aliás, será que é possível ter uma pesquisa sem hipóteses?
  8. É possível fazer ciência sem prospecção sistemática de dados quantificáveis?
  9. É possível fazer ciência com fatos únicos, impossíveis de serem reproduzidos (e/ou simulados parcialmente) em laboratório?
  10. É cientificamente válido que um pesquisador seja absolutamente subjetivo na escolha de sua problemática de pesquisa, na eleição de sua base empírica e no tratamento desta, desde que os dados coletados sejam fieis a tais opções?
  • Se você respondeu apenas dois "sins", talvez seja o caso de se preparar para se aposentar por idade ou nem começar a carreira de pesquisador, apenas se afiliando à ABNT como sócio benemérito.
  • Se você se considera um pesquisador experiente e respondeu entre e dois e cinco "sins", talvez seja o caso de rever seus paradigmas científicos e tentar oxigenar suas ideias conversando com pesquisadores de outros ambientes institucionais e de outras áreas (sobretudo das Humanidades).
  • Se você se é um jovem pesquisador e respondeu entre e dois e cinco "sins", tome cuidado com suas companhias de mentes mais velhas; elas podem estar minando a sua juventude irremediavelmente.
  • Se você respondeu entre dois e quatro "nãos", não se desespere, ainda pode haver salvação, porém o esforço e a vontade de sair da zona de conforto são de sua exclusiva responsabilidade.
  • Se você respondeu menos do que dois "nãos", é somente uma questão de estar sempre atento, tomando cuidado onde pisa (e onde senta), já que há outras armadilhas muito mais perigosas dos que as "quase inocentes" fôrmas de bolo de Márcio Zardo, como poderia ser uma fôrma cheia de concreto de secagem rápida (que o deixaria eternamente refém da ABNT) ou mesmo uma armadilha de caçar ursos (que minaria, definitivamente, a sua capacidade de buscar novos horizontes, o condenando a escrever inúmeros artigos sobre a mesma coisa até o final dos tempos).
  • Lembre-se que quanto mais "sins" maior será a pena estabelecida pelo Supremo Tribunal da Inquisição e da Integridade da Ciência.
EM TEMPO: o blog recebeu um boa sugestão de Eduardo Tomanik e acrescenta uma nova questão:
"Você entende como válido um projeto científico que possa abrir possibilidades de que a teoria básica e a(s) hipótese(s) não seja(m) (re)confirmada(s)?"Obs: para não quebrar os cabalísticos números da pesquisa tradicional (1, 3, 5, 10, 50 ou 100) fica permitido ao leitor que escolher responder a questão extra se eximir de responder uma das 10 questões elencadas anteriormente, sem prejuízo da análise quantitativa do score de "sins". 

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Tropeços na redação científica 5

Segundo o Novíssimo Dicionário Universal de Tropeços na Redação Científica:
  • citalogismo é o termo que designa, ao mesmo tempo, a) a crença de que é possível produzir um bom texto científico apenas colecionando e organizando afirmações já feitas por outros autores e b) as práticas derivadas desta crença, que consistem basicamente na elaboração de textos a partir do uso exclusivo da citalogia;
  • citalogia é a técnica de produção de textos pretensamente científicos, sem a contribuição de qualquer reflexão original produzida por seu autor ou autores.
Em outras palavras, um texto citalogístico é aquele que contém apenas um conjunto mais ou menos organizado de citações de outros autores e que normalmente apresenta, na parte das conclusões, já que é indispensável que ela exista, nada mais que um punhado de reafirmações (por vezes, mas nem sempre, disfarçadas) do conteúdo já apresentado.

O conhecimento científico é formado por um imenso conjunto de afirmações, consideradas como válidas ou corretas, de acordo com os critérios adotados em cada área, sobre cada tema ou fenômeno estudado por ela. O avanço desse conhecimento ocorre quando uma ou algumas daquelas afirmações são aperfeiçoadas, detalhadas ou mesmo substituídas por outras, aceitas como mais adequadas.

Tal como ocorre em todas as outras formas de conhecimentos humanos, os avanços das ciências nunca partem do nada, do zero, para a produção de algo absolutamente novo e original; eles são sempre um aprimoramento ou, às vezes, uma contraposição a algo que já se sabia ou que era aceito como válido.

Por isto é comum e adequado que os autores de textos científicos tomem como pontos de partida para suas reflexões ou investigações, afirmações já elaboradas por outros autores. O problema do citalogismo ocorre quando cientistas e seus discípulos começam a acreditar que textos científicos podem ser apenas coleções de afirmações já lançadas por outros autores e que permanecem tidas como válidas.

Talvez a origem desta prática tenha sido a crença de que os alunos das primeiras séries da graduação, quando participam das suas disciplinas básicas de iniciação, precisam familiarizar-se com as exigências da redação científica mas não possuem, ainda, os conhecimentos suficientes nem as condições intelectuais necessárias para a produção de reflexões próprias e originais. Neste caso, seria aceitável que fosse exigido deles apenas a elaboração de textos compostos por reflexões já elaboradas por outros autores. A citalogia seria justificada, neste caso, como um momento de aprendizagem.

Se esta crença existe, precisamos extirpá-la o quanto antes. Primeiro, por que não devemos nem precisamos menosprezar a capacidade dos alunos iniciantes; eles sabem pensar e devem ser incentivados, em todas as oportunidades, a fazê-lo. Também não podemos ignorar o efeito potencialmente nocivo daquela aceitação: quando solicitamos ao aluno que elabore o que chamamos de um texto científico e aceitamos que ele apresente o que é apenas uma colagem de afirmações alheias, estamos contribuindo para que ele acredite que a citalogia é uma técnica aceitável ou, pior ainda, que o citalogismo é a opção correta para a produção científica.

Como crença, o citalogismo é absurdo, já que equivale a supor a possibilidade da existência de um pensador que não precisa pensar. Como prática, tampouco merece continuar a ser adotado, porque seus resultados normalmente são muito parecidos com o monstro criado, na literatura, pelo Dr. Frankenstein; afinal, a pretensão de gerar uma nova criatura apenas unindo fragmentos de outras só poderia resultar em algo desagradável de ser visto e de pouca ou nenhuma utilidade.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Redes de conhecimento intelectual


A história intelectual é fundamental para que possamos melhor compreender as correntes, as redes de relacionamento e os autores protagonistas (pesquisadores, cientistas, filósofos. escritores etc.). Isso serve para qualquer área do conhecimento, porém, como tendência da formação das bases filosóficas de uma sociedade, a produção relacionada às Humanidades torna-se um objeto de estudo preferencial. 

No Brasil, Helenice Rodrigues da Silva foi quem traçou as bases atuais para esse tipo de estudo. Em homenagem à sua prematura saída de cena no ano passado (ver post aqui), a revista "Vozes, pretérito & devir" acaba de publicar um volume especial dedicado ao tema.

O editorial do fascículo, escrito por Francisco Atanásio, assim apresenta a homenageada: 
Helenice Rodrigues da Silva foi professora adjunta do programa de graduação e pós-graduação em história pela Universidade Federal do Paraná. Dentre as diversas atividades intelectuais em que esteve ligada, fez parte do conselho editorial da Revista “Vozes, Pretérito e Devir”. Dentre as sugestões propostas para o periódico, idealizou um dossiê voltado ao pensamento intelectual vinculado ao exercício historiográfico, o qual consequentemente deu origem ao atual dossiê. Muito dessa proposta está associada à própria formação da historiadora, que viveu há mais de duas décadas na França, onde obteve os títulos de mestre e doutora ("doctorat d'État ") pela Université de Paris X-Nanterre, pós-doutorado pelo Institut d'Histoire du Temps Présent, além de atuar como pesquisadora pelos Centre National de la Recherche Scientzfique e École de Hautes Études en Sciences Sociales. Em tais ambientes pode conviver, compartilhar e aprender com intelectuais como P. Bourdieu, M. de Certeau, M. Foucault, Jacques Becker, F. Dosse, entre outros. Parte substantiva de seus estudos foram dedicados à compreensão das dimensões epistemológicas do pensamento intelectual no mundo ocidental, especialmente o pensamento engajado dos intelectuais franceses no século XX. No dia 09 de maio de 2012 Helenice veio a falecer em virtude de complicações decorrentes de um acidente vascular cerebral.
Aceda ao volume especial "Intelectuais, historiografia e literatura" aqui.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Tropeços na Redação Científica 4

Estilos (ou a falta deles)

Nietsche, Marx e Sartre em estilo carnavalesco - Fotomontagem by Eatomanik 2014
Um bom texto sobre o marxismo ou que tome esta teoria como base tem que ser redigido em um estilo o mais próximo possível daquele utilizado por Karl Marx. Do mesmo modo, estudiosos de Heidegger devem ser capazes de escrever como ele; sartreanos precisam imitar o estilo de Sarte e freudianos devem nos fazer imaginar que seu texto foi escrito pelo próprio pai da psicanálise.

Espero que você tenha discordado de tudo o que está no parágrafo anterior. A meu ver, aquilo tudo é absurdo. Estamos de acordo?

Então, por que lemos tantos textos que parecem levar a sério afirmativas como aquelas?

Tenho me deparado com uma quantidade bem razoável de textos, normalmente (mas não exclusivamente) redigidos por pessoas que estão iniciando suas carreiras como autores e que parecem partir do princípio de que um texto, para ser científico e valioso, tem que ser escrito no mesmo estilo adotado pelos que são reconhecidos como cientistas valiosos.

Os autores que citei e muitos outros, que são importantes e que nos auxiliam a pensar, viveram e produziram em outros momentos, em outros espaços sociais e registraram seus pensamentos adotando estilos de redação e de argumentação que eram os correntes em suas épocas, nos idiomas que utilizaram e em seus grupos de referência intelectual.

Muitos tradutores procuram respeitar estes estilos e realizam grandes e louváveis esforços para transpô-los, junto com o conteúdo dos textos, para outros idiomas.

Na grande maioria dos casos, porém, não há qualquer razão para que tentemos fazer o mesmo. Vivemos em outro momento, em outro país, em contextos sociais nos quais as preocupações, os hábitos, os processos de interação social, os meios e até mesmo os objetivos mais imediatos da comunicação mudaram bastante, quando comparados com os vividos por aqueles autores. Nossas conversações cotidianas, verbais ou escritas, são diferentes. Por que nossos textos científicos devem permanecer iguais?

Arrisco uma hipótese: nós, professores, sem perceber, estamos transmitindo aos alunos a ideia de que o estilo de redação é um elemento-chave na determinação do valor ou da cientificidade de um texto. Afinal, não somos nós, direta ou indiretamente, que ensinamos a eles que um texto, para ser aceito como científico, tem que ter Introdução, Objetivos, Procedimentos, Resultados e Conclusões, separadinhos, devidamente identificados por subtítulos e enquadrados em espaços delimitados (e, muitas vezes, com tamanhos fixos)? Se a ordem das informações é um determinante da qualidade, por que não também o estilo? Assim, vamos enquadrando o pensamento dos novos cientistas.

Algumas características como precisão, clareza e concisão são altamente desejáveis em um texto científico, mas nenhuma delas é, isoladamente, determinante do valor do mesmo. Este valor depende, fundamentalmente, da qualidade e da originalidade das informações que o texto traz e das afirmações e reflexões que apresenta e desperta.

Isto pode ser feito, facilmente, no português nosso de cada dia, sem que precisemos cair nas gírias e na vulgarização das expressões nem abrir mão da qualidade, da precisão da clareza.

Ou vamos continuar supondo, como já fizeram Heidegger (a sério) e Caetano Veloso (será?), que “só é possível filosofar em alemão”?

sábado, 19 de julho de 2014

JIAI-2014 começam dia 23/07 em Quito


A edição das Jornadas Internacionais de Acesso à Informação (JIAI), evento que vem sendo organizado pelo Prof. Dr. André Porto Ancona Lopez, da Faculdade de Ciência da Informação (FCI/UnB) começará nesta 4ªf, dia 23/julho no Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para América Latina (CIESPAL), instituição de referência que publica a famosa revista Chasqui, uma das poucas A1 da América Latina.

As JIAI objetivam refletir sobre a relação entre o acesso à informação, democracia e desenvolvimento social a partir de diferentes disciplinas: arquivos, biblioteca, Ciências da Informação, Direito, Comunicação e TICs. O evento atual tem na organização professores da UnB e da Universidade de Antioquia (UdeA - Colômbia). Apoiam ainda a Superintendência de Telecomunicações do Equador a Universidade Central do Equador e o Projeto Prometheus, da Secretaria Nacional de Educação Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação daquele país. A organização do evento é parte dos resultados de convenio firmado entre a UnB e A UdeA em janeiro deste ano. As JIAI se constituem uma atividade de trabalho coletivo, contando com o apoio oficial da rede "Diálogos en Mercosur" e "Movimento Internacional do Conhecimento".

As JIAI estão inseridas em um ambiente dinâmico, com alcance internacional, representando o resultado de esforço e atividades continuadas de uma rede de especialistas e pesquisadores, fundada em 2010, em Santiago do Chile, em simpósio do Congresso da Internacional do Conhecimento. Tal simpósio veio a se repetir em Janeiro de 2013, na edição subsequente do mesmo congresso, também no Chile.. Meses depois, em outubro do mesmo ano, realizou-se com sucesso um novo evento, desta vez na Universidade de Antioquia, em Medellín, Colômbia.

Segundo o coordenador, Prof. André, as JIAI sugiram da necessidade expressa por vários colegas latino-americanos de refletindo sobre o acesso à informação como forma de fortalecimento da democracia e como um incentivo para o desenvolvimento social. É cada vez mais claro que a participação ativa da sociedade civil nas atividades econômicas, sociais e culturais, um fenômeno que está causando uma mudança na forma de acesso e compreender as informações, especialmente a relacionada com as atividades do governo.

Em maio deste ano, as JIAI consolidaram sua própria rede, a RedJIAI, que, em pouco mais de um mês e meio, superou uma centena de filiados, contando com alguns nomes bastante significativos na área como, por exemplo Rafael Capurro (do International Center for Information Ethics, Alemanha), Luciana Duranti (da University of British Columbia, Canadá). Manuel Sanches de Diego (da Universidade Complutense de Madrid), Pablo Armando Gonzáles (da Universidade Nacional Autônoma do México), Anna Szlejcher (da Universidade Naciobal de Córdoba, Argentina), além de diretores de arquivos públicos do Brasil e do exterior.

Maiores informações sobre as JIAI e sobre sua rede podem ser obtidas em http://www.jiai.info

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Últimas semanas para inscrever comunicação em evento no Equador


Estão abertas até dia 10/julho as inscrições para o evento Jornadas Internacionales de Acceso a la Información - 2014, a ser realizado em Quito, Equador entre os dias 23 e 25 de julho. Trata-se de uma boa oportunidade para a comunidade da Ciência da Informação apresentar trabalhos. 
  • As propostas devem ser inscritas em formulário eletrônico em http://goo.gl/WHMhUD.
  • Maiores informações podem ser obtidas na página do evento aqui
  • A convocatória completa pode ser baixada em pdf aqui
O evento é uma realiação da RedJIAI, que busca congregar pesquisadores e interessados na discussão sobre a relação entre o acesso à informação, democracia, desenvolvimento social e cidadania, a partir de diferentes disciplinas, tais como Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Comunicação, Direito, Economia, Geografia, História. Sociologia, Tecnologia, e muitas outras. Conheça mais sobre a Red de las Jornadas de Acesso a la Información em http://www.jiai.info/.

A rede das JIAI, no momento conta com mais de 80 filiados, entre eles alguns pesquisadores internacionais mais conhecidos dos leitores do blog MCI, tais como:
    • Capurro, Rafael, Alemanha, International Center for Information Ethics; 
    • Duranti, Luciana, Canadá, University of British Columbia; 
    • Font Aranda, Odalys, Cuba, Univeridad Agraria de la Habana; 
    • Gómez, María Nelly, Colômbia, Universidad del Quindio; 
    • González, Pablo Armando, México, Universidad Nacional Autónoma de México 
    • Lima, Márcia Heloisa, Brasil, Universidade Federal Fluminense 
    • Lopez, André Porto Ancona, Brasil, Universidade de Brasília 
    • Salvador ,Antonia, Espanha, Universidad Complutense de Madrid; 
    • Sánchez de Diego, Manuel, Espanha, Universidad Complutense de Madrid 
    • Santillán-Aldana, Julio, Perú, Universidade de Brasília 
    • Silva, Rubens Ribeiro Gonçalves da, Universidade Federal da Bahia; 
    • Szlejcher, Anna, Argentina, Universidad Nacional de Córdoba.
    A lista completa  pode ser vista aqui

    quinta-feira, 26 de junho de 2014

    Cursos de especialização em Gestão na UFMG


    O Núcleo de Informação Tecnológica e Gerencial da Universidade Federal de Minas Gerais (NITEG-UFMG), cuja missão é aumentar o poder inovador e competitivo da sociedade, fazendo a ponte entre a pesquisa acadêmica e sua aplicação industrial, está com inscrições abertas para os seguintes cursos de especialização:
    • Gestão Estratégica da Informação (link aqui);
    • Gestão e Arquitetura da Informação (link aqui);
    • Gestão da Informação e Pessoas (link aqui).
    A turma atual do curso de Gestão Estratégica da Informação também está trabalhando por meio de um blog.  O blog "GEI 2013/2" é de excelente qualidade técnica, sempre muito bem atualizado com temas relacionados não apenas à gestão estratégica, porém amplos e multidisciplinares, de interesse geral para à Ciência da Informação e áreas correlatas. Aceda ao blog GEI 2013/2 aqui.

    segunda-feira, 23 de junho de 2014

    Tropeços na Redação Científica 3

    A ironia da ironia entre aspas


    Existe, nos meios acadêmicos, um ritual mímico-verbal minuciosamente detalhado e repetido com frequência. Visualize a cena: uma aula, palestra ou apresentação de trabalho; alguém lá na frente, distribuindo seu saber; a plateia mais ou menos atenta... O apresentador
    a) diz uma palavra ou conjunto delas (tais como democracia, eficiência ou boas intenções), prolongando a verbalização;
    b) ao mesmo tempo, flete a articulação do cotovelo,
    c) ergue as duas mãos até que elas fiquem adiante do rosto, dispostas lateralmente de forma mais ou menos paralela aos ombros e verticalmente numa altura próxima à da boca,
    d) dobra os dedos mínimos e anulares das duas mãos e sobrepõe a eles os polegares respectivos,
    e) estende e flete rapidamente uma ou duas vezes os dedos médio e indicador e
    f) acompanha estes gestos com a expressão verbal entre aspas.
    Os que assistem ao ritual entendem prontamente que o tal processo tido como democrático na verdade não o era, que as tais intenções não eram tão boas assim ou que a eficiência era qualquer coisa, menos eficiente.

    Já presenciamos ou representamos esta cena tantas vezes que muitos praticam uma forma de transposição parcial daquele ritual para o que redigem. Não é raro encontrarmos textos nos quais nos deparamos com algumas palavras ou expressões breves escritas entre aspas, mas sem referências a uma fonte ou autor externo. Quando isto ocorre, podemos entender que o autor do texto indicou, através do uso das aspas, que estava utilizando as palavras delimitadas de forma relativizada e irônica.

    Há quem afirme que esta prática fere as normas de redação científica segundo as quais as aspas devem servir como elementos de delimitação de trechos breves, transcritos de fontes externas. Para os defensores da obediência irrestrita às normas, esta seria uma razão suficiente para a eliminação daquele uso.

    Contra esta posição, prefiro pensar que normalmente não temos dificuldade em distinguir aspas delimitadoras e irônicas pelo fato de que as primeiras são (ou devem ser) acompanhadas das referências às fontes originais. Por isto, não considero esta duplicidade de funções como um problema.

    Também não defendo a posição de que um texto científico deve ser isento de afetos, de humores e de recursos de estilo literário. As expressões irônicas podem ser bem vindas.

    Por outro lado, penso que não podemos abrir mão, nestes textos, da clareza na exposição das ideias e na definição dos conceitos. Frente a esta exigência, aquelas ironias podem ser prejudiciais.

    Quando coloco uma palavra entre aspas desta maneira, sugiro que a tal palavra não é uma denominação adequada para aquele fenômeno ou processo. É como se dissesse que “A” não é exatamente igual a A. Isto pode até ser uma informação importante para o leitor, mas não esclarece o que é “A”.

    Imaginar que “A”, além de não ser igual, é exatamente o contrário de A tampouco é satisfatório. Sugerir, através da ironia, que um processo político não é democrático só será esclarecedor se eu fornecer também informações claras sobre o que estou considerando como democracia e em que o tal processo diverge destas características.

    Sem detalhamentos deste tipo, aquela pretensa ironia pode servir apenas como uma forma de transferir para o leitor algumas obrigações do autor, como a clareza e a precisão na definição dos conceitos. Ironia ou preguiça?

    O irônico é que esta forma de ironia textual normalmente seja utilizada para denunciar um mau uso de um conceito, quando ela própria pode envolver outro uso inadequado do mesmo. 

    Se afirmo que isto constitui um problema “sério”, você entenderá o que eu quis dizer com este sério

    Sério?

    domingo, 8 de junho de 2014

    Nueva edición de la Revista Científica TeloS

    Ya está disponible la nueva edición de la Revista Científica TeloS. Vol.1, N°2, (Mayo-Agosto, 2014).

    Ha sido el esfuerzo de 10 meses de trabajo, producto de la mejor disposición de los colaboradores científicos, editores, referatos, comité editorial, asesores, correctores de estilos, asistentes y diagramadores, para que nuevamente se pudiera cristalizar está publicación arbitrada.

    Es importante resaltar, que todos los artículos de este número, son producto de un proceso de arbitraje, bajo el sistema doble ciego y con la mayor rigurosidad científica en la evaluación.

    Casi todos los artículos fueron seleccionados de los eventos organizados en el año 2013, como el II Simposio Internacional Estudios en organizaciones públicas, privadas y sociales en América Latina y El Caribe en el marco del III Congreso Internacional Ciencias, Tecnologías y Culturas en la Universidad de Santiago de Chile (USACH), Enero 2013, organizado por la Red Internacional del Conocimiento y del III Simposio Internacional Estudios en organizaciones públicas, privadas y sociales en América Latina y El Caribe en el marco del II Encuentro de las Ciencias Humanas y Tecnológicas para la integración en el Conosur en la Universidad Sergio Arboleda (USA), Bogotá-Colombia, Mayo-2013, organizado por la Red Diálogos en Mercosur; Los simposios internacionales fueron coordinados y organizados por la Red Académica Internacional Estudios en las Organizaciones Públicas, Privadas y Sociales en América Latina y el Caribe e Iberoamerica (REO-ALCeI). 

    Otros artículos de está edición forman parte de algunos miembros que hacen vida en está red, realizando investigaciones de forma permanente,siendo las revistas científicas que colaboran con nuestra red, el medio de difusión científica para los resultados de sus estudios.
    Telos está indizada en:
    1. Revencyt, 
    2. Redalyc, 
    3. Clase 
    4. Latindex (catálogo),
    5. Pupe (Publicaciones Periódicas de la Universidad Rafael Belloso Chacín),
    6. Actualidad Iberoamericana,
    7. Directory of Open Acces Journal (DOAJ),
    8. Dialnet, 
    9. Ebsco, 
    10. Ulrich’s 
    11. Biblioteca de la Universidad de Texas 
    12. Biblioteca del Congreso de los Estados Unidos de Norteamérica 

    sábado, 7 de junho de 2014

    Lançada Rede sobre Acesso à Informação


    No dia 02/05/2014 foi lançada a página da Red de las Jornadas Internacionales de Acceso a la Información. A rede é resultante de trabalho árduo empreendido por diferentes pesquisadores desde o II congreso da Internacional del Conocimiento, que teve lugar na USACH, Chile em 2010 (ver nota aqui). A formalização da rede é resultado de discussões realizadas no I Encuentro de Redes Académicas e Investigativas, promovido pelo Diálogos en Mercosur no ITM (ver posts aqui e aqui), que apontou para a necessidade de algum nível de institucionalização das redes científicas. A RedJIAI, que compartilha dos pressupostos acadêmicos da Internacional del Conocimiento e da Diálogos del Mercosur, apresenta em sua página, http://www.jiai.info/, os objetivos, componentes, eventos e vínculos institucionais.

    No momento a rede está trabalhando na organização das jornadas de Quito e buscando congregar mais membros filiados. As jornadas de Quito (JIAI-2014) estão com inscrições abertas aos interessados, que podem buscar mais informações na  RedJIAI aqui, que traz link para a página do evento. Em menos de uma semana a rede obteve mais de 50 filiações, oriundas de 9 países e continua a buscar mais membros interessados em participar. A inscrição é gratuita e leva menos de 1 minuto cronometrado; basta preencher os dados de identificação no formulário aqui.
     

    Recentemente a Internacional del Conocimento divulgou aqui, em seu portal nota sobre a criação da página da rede e o Diálogos en Mercosur fez aqui uma chamada para as jornadas de Quito 

    segunda-feira, 26 de maio de 2014

    Tropeços na Redação Científica 2

    As ligações perniciosas


    Uma das exigências para a redação de um texto científico, tal como para a grande maioria dos textos, é a da continuidade: cada ideia, informação ou reflexão apresentada deve ser claramente relacionada às demais e disposta numa sequência que permita ao leitor acompanhar o raciocínio do autor. Isto obriga o autor a planejar seu texto de maneira que, dentro de uma mesma seção, cada parágrafo mantenha alguma relação de continuidade com o anterior e o seguinte.

    Parece que esta exigência - básica, conhecida e aceita - tem representado uma dificuldade muito grande para os cientistas-autores: há um número imenso de textos que apresentam um verdadeiro festival de parágrafos iniciados com expressões como "deste modo", "desta forma", "desta maneira"... De vez em quando aparece um "sendo assim"... 

    Isto não seria uma inadequação, não fosse o fato de que, na maioria das vezes, os parágrafos anteriores não fazem referência a qualquer elemento que possa ser identificado com um modo, uma forma, uma maneira, ou algo que permita ao leitor identificar a que se refere o tal do "assim".

    É fácil perceber que os autores estão tentando estabelecer alguma forma de continuidade do texto, só que, nestes casos, o resultado acaba sendo inadequado e tornando a leitura desagradável já que aquelas expressões significam exatamente nada.

    Quando encontrar uma daquelas expressões, faça dois exercícios. Um: releia o parágrafo anterior e procure detectar, nele, qualquer afirmação que possa sugerir ou ser interpretada como um modo, forma, ou maneira. Se não houver, a expressão é incorreta. Dois: experimente ler o parágrafo no qual a tal expressão aparece, mas como se ela não estivesse ali. Esta omissão prejudicou ou alterou a compreensão do conteúdo do parágrafo e a relação dele com o anterior? Não? Então, a expressão é inútil.

    A continuidade entre os parágrafos deve existir, mas ser estabelecida pelas relações entre os conteúdos dos mesmos, não por estas ou outras gambiarras textuais.

    Provavelmente, o que vem acontecendo é que, no decorrer do planejamento, o autor ou autores têm o cuidado de decidir sobre o conteúdo de cada parágrafo, mas não se preocupam em definir, também, por que cada parágrafo deve ser colocado naquela ordem, qual é a sequencia do raciocínio que pretendem apresentar ao longo do texto. É a definição clara desta sequência que orienta o estabelecimento de relações de cada parágrafo com os que o antecedem e sucedem.

    A lista de ligações utilizadas erroneamente é bem maior que a expressões que apresentei até aqui. Um grupo destas ligações, bastante próximo ao das citadas e que pode passar por crivo semelhante, envolve expressões como "paralelamente" ou ao "mesmo tempo"...

    Outro grupo é composto por expressões aparentemente mais sofisticadas e adequadas, como "convém destacar que", "é imprescindível frisar que", "é necessário dizer", que não são acompanhadas por qualquer explicação sobre porque é conveniente, necessário ou imprescindível dizer ou destacar aquilo. Frequentemente não é.

    Além da continuidade, outra caraterística desejável nos textos científicos é a concisão: o texto científico não deve conter informações, afirmações ou digressões que não sejam necessárias para que os seus objetivos sejam atingidos. Isto implica em que tudo o que está no texto deve ser importante; caso não seja, deve ser excluído. Destacar algum conteúdo implica, necessariamente, em desmerecer o restante. Por estes dois motivos, se algo deve ou merece mesmo ser destacado, é necessário tornar claras as razões que justificam esta diferenciação. Na ausência destas justificativas, aquelas expressões acabam, normalmente, por ser apenas outras formas de remendos.

    Diante deste quadro, antes de cair em tentação, lembre-se que o primeiro mandamento do redator científico é:
    ...não embromarás!


    sexta-feira, 16 de maio de 2014

    Estândares para publicação de textos acadêmicos


    Tomanik, um dos mais ilustres colaboradores deste blog, comentou uma vez ("O Olhar no Espelho", cap 2) que, muitas vezes se confunde erroneamente metodologia com um conjunto de regras de apresentação. Infelizmente, essa parece ser a regra vigente no Brasil, na absoluta maioria das monografias universitárias, cuja análise pela banca costuma se deter apenas nos elementos formais. Os elementos formais, sem dúvida, são importantes (como já indicamos em alguns posts anteriores), mas somente se o conteúdo for bom. Seguir bem as normas da ABNT não dá nenhuma garantia da qualidade do trabalho.

    O que muita gente sequer suspeita é que a ABNT tampouco é um padrão universal, mesmo sendo utilizada pelas boas revistas científicas brasileiras; boas, de acordo com os nossos critérios nacionais, diga-se de passagem. No mundo acadêmico internacional, a ABNT não existe como padrão de qualidade; ou seja, as revistas científicas tidas como internacionalmente boas, pelo resto do mundo, não usam a ABNT. Isso é algo que pode representar um dilema para alguns editores brasileiros, pois, se quiserem elaborar um material nacionalmente aceito devem, quase como que uma obrigação religiosa, usar a ABNT. Por outro lado, se buscarem aceitação com pares internacionais, em relação de igualdade acadêmica, esse padrão não serve. Um dos estândares mais utilizados no mundo científico é a APA, sigla que se refere à Associação Americana de Psicologia, cujas regras de apresentação formal de textos estão presentes por toda parte; exceto no Brasil.

    A ABNT é uma norma paga, restrita a quem compra o direito de acessá-la. O jeitinho brasileiro sempre providenciou cópias pirata dela, desde o tempos das fotocópias borradas, porém todas essas cópias, de saída, já nasceram fora das regras dos direitos de reprodução. Com base nessa restrição, proliferam no Brasil textos que ensinam a usar a norma, muitas vezes com a indevida roupagem de manual de metodologia, reforçando a impressão equivocada aludida por Tomanik.

     A APA, pelo contrário, é vendida somente para quem quer adquirir o manual completo. O próprio site disponibiliza tutoriais bastante completos e cheio de exemplos, tornando o "estilo" (o nome correto é APA Style, sem a carga impositiva do termo "norma") bastante acessível e, mais importante ainda, com contorle sobre o material de formação de novos usuários. Não há nenhum impedimento para que outros autores produzam seu próprios manuais, os quais terão, sem dúvida, uma ressonância muito limitada já que o existe material on-line "oficial" gratuito. É provável também que quem efetivamente queira comprar um manual opte por adquirir o produto "oficial". Supõe-se que com o estreitamento de um mercado editorial dedicado ao uso do estândar, os autores estadunidenses não produzam tantos textos disfarçados de metodológicos sem o serem de fato. 

    No Brasil, a encruzilhada torna-se mais complicada no momento atual, no qual muitas revistas, de olho na expansão para/com a América Latina, não apenas estão aceitando textos em castelhano, como, em alguns casos, tentando publicar volumes inteiros no idioma de Cervantes. A questão é como "obrigar" que o autor hispano-americano use a ABNT. Nos outros países latino-americanos, cada vez mais a APA vem sendo adotada como o padrão de publicação local, mesmo com o risco de se tornar dependente de definições externas. Alguns críticos poderão argumentar, com alguma razão, que a adoção de um estândar estrangeiro (a APA representa uma associação profissional de um país, não sendo um estândar internacional) poderia nos colocar em uma situação análoga a alguns países, que por não terem uma economia sólida, se renderam a adoção do dólar como moeda local, ampliando os problemas de dependência econômica dos EUA.

    Não se trata de defender este ou aquele estândar, porém de ter conhecimento da existência de outros -- e a APA é apenas mais um entre vários outros -- e saber que as normas nacionais são absolutamente limitadas ao território (conforme indica o adjetivo "brasileiro", da sigla ABNT). Na ausência de um estândar a ser criado, pela ainda inexistente associação latino-americana dedicada ao tema, essa opção permite uma melhor circulação científica, em nível mundial, daquilo que produzimos deste lado do atlântico e permite que a produção bibliográfica de nossos países possa estar mais integrada. A questão não é de dominação, porém de integração e circulação do conhecimento científico.

    Para quem quiser melhor conhecer o recurso, a página da APA Style (aqui) é uma boa opção; lá é possível aceder a um tutorial gratuito (aqui) ou a um blog dedicado ao tema (aqui). Quem tiver dificuldades com o inglês pode se valer das boas opções existentes em castelhano. A comunidade RedDOLAC, dedicada à integração de experiencias e tecnologias didáticas, sediada no Peru, divulgou recentemente (ver aqui) apostila feita no Equador sobre como aplicar a APA em publicações acadêmicas (baixar do blog "Yo Profesor" aqui). As editoras científicas colombianas certificadas pelo governo de lá utilizam a APA. Um extrato de um curso feito na Colombia sobre a APA, publicado no México, está disponível em um site da Universidad Nacional Experimental del Táchira, Venezuela (aqui). Insistir em um modelo "normativo" nacional pode parecer teimosia, ou, até mesmo, piada:

    Copiado de "Boa Dica"





    sábado, 5 de abril de 2014

    Tropeços na Redação Científica 1

    Quando a questão não existe ou ninguém sabe qual é

    M. C. Escher; Queda D´água, copiado de Gödel, Escher, Bach
    O uso de gírias e de expressões peculiares é típico dos grupos sociais. Além de servirem como recursos para a comunicação, estas formas particulares de expressão servem também como elementos de identificação dos participantes do grupo. No mundo acadêmico isto também ocorre e quem já viveu algum tempo neste ambiente com certeza se lembrará de muitos exemplos de gírias compartilhadas até a exaustão pelos cientistas.

    Aqui no Brasil já tivemos um período no qual, após a publicação de um texto do Maurício Tragtemberg sobre o tema, nenhum participante da academia se atrevia a construir uma frase qualquer sem abordar as relações entre o saber e o poder. Tivemos, também, as fases do ponto fulcral e do a nível de... (que virou até música).

    Parece que a gíria da vez é a questão da...

    Preste atenção e você verá que parecemos não ser mais capazes de discutir a política, a adolescência, a comunicação, o desejo... Estamos sempre falando, escrevendo e discutindo a questão de cada um daqueles temas.

    Esta poderia ser apenas mais uma mania, um cacoete dos cientistas que, tal como as músicas temas das novelas da Globo, de tão repetidas, tornam-se maçantes, mas me parece que ela serve também para transmitir uma série de falsas impressões.

    A primeira delas pode ser a impressão de falsa competência. Quando alguém cita, de passagem, algo como a questão da formação política, está agindo como se soubesse, com precisão e clareza, o que é a tal questão, quais os limites, os determinantes e as consequências da mesma. Será que sabe?

    Além disso, se não detalhar aqueles elementos, nosso brilhante autor ou locutor estará transferindo para seus ouvintes a responsabilidade pelo conhecimento de todos eles. Assim, cria novas falsas impressões. Uma: a de que todo mundo sabe ou deveria saber qual é e em que consiste a tal questão. Outra, bem pior: a de que ela existe e é ou pode ser conhecida.

    Será que a complexidade que normalmente envolve acontecimentos ou processos importantes pode ser reduzida e expressa em uma questão?

    Qual é, por exemplo, a questão da Educação no País? Quais são as do Ensino Superior, da participação política, da economia de base, dos direitos humanos?

    Para piorar: normalmente, a expressão a questão da ou do significa exatamente nada. Faça um exercício. Tome a frase: “A questão da Abolição, no Brasil, não pode ser compreendida plenamente se não levarmos em conta a questão da produção agrícola nacional, a questão dos interesses mercantis ingleses e especialmente a questão do frágil equilíbrio político da Monarquia”. Agora experimente retirar da frase as expressões a questão da ou do e substituí-las pelos artigos a ou o equivalentes. Aquelas expressões fizeram alguma falta?

    Na maioria das vezes o uso daquelas expressões é inútil. Elas representam apenas uma mania chata e, eventualmente, a manifestação de alguma petulância.

    Para que precisamos delas, então?

    Como nos livrarmos deste vício? Eis uma boa questão.

    De qualquer forma, acho que está na hora de prestarmos mais atenção nas questões envolvidas nesta questão da questão, porque ela está se tornando excessivamente repetitiva.

    terça-feira, 18 de março de 2014

    Um puxadinho no Blog: motivos e intenções

    • Um: tenho acompanhado com alguma periodicidade as discussões promovidas pelo André aqui no blog. Elas têm me divertido e ensinado muito.
    • Dois: trabalhei com o André em Maringá e em Brasília e gosto do modo como ele demonstra, na prática, algo em que acredito: é possível trabalhar séria e criticamente sem ser mal humorado ou chato.
    • Três: tenho, atualmente, mais tempo disponível que a maioria dos meus colegas, já que vivo a situação paradoxal de aposentado ma non troppo. É claro que, como aposentado, passei a receber e a assumir uma série de funções domésticas das quais a condição de trabalhador-com-horário-e-compromissos me isentava, mas isto é outra história. De qualquer forma, tenho algum tempo para dedicar às coisas que me dão prazer.
    • Quatro: velhos gostam de conversar e passam o tempo procurando vítimas para suas falas.
    Resultado: resolvi finalmente aceitar um convite do André e me tornar colaborador periódico deste fórum de discussões. Dito de outra forma: ele cedeu o espaço, eu resolvi construir um puxadinho aqui no blog e me instalar nele, ao menos por uns tempos.
    Como iniciante nas artes e manhas do espaço virtual, resolvi começar abordando temas pequenos, quase marginais, que normalmente não têm espaço nas publicações e apresentações oficiais, mas que estão por aí, permeando nosso dia a dia acadêmico. Coisas como um cisco no olho ou uma pedrinha no sapato, que não teriam qualquer importância nem seriam percebidas, se não estivessem onde não deveriam estar e se não causassem incômodo, por isto.

    Pretendo começar tratando de alguns maus hábitos (segundo minha avaliação) que vejo ser cometidos por muitos dos que se dedicam a escrever textos científicos e que, de tanto serem repetidos, deixam de ser percebidos e passam, mesmo, a ser considerados como parte dos padrões de redação acadêmica.

    Se todo mundo faz, está certo? Frequência é igual à qualidade? Penso que não.

    Espero que os textos que pretendo postar sejam úteis. Se não, que sejam divertidos. Se nada disso, que sejam ao menos perdoáveis. E perdoados.


    domingo, 9 de março de 2014

    Eduardo Tomanik é o novo colaborador do blog MCI

    Copiado do Blog "Pesquisa-Ação", que cujas discussões devem muito ao Tomanik
    Eduardo Agusto Tomanik, se auto descreveu em seu lattes assim: Licenciado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Mestre em Psicologia Comunitária pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi professor associado da Universidade Estadual de Maringá, atuando no Curso de Graduação em Psicologia e nos Programas de Pós-Graduação em Administração, Enfermagem e Psicologia (Mestrados) e Ecologia (Mestrado e Doutorado). Tem experiência nas áreas de Metodologia Científica e de Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: Representações Sociais, ambiente e processos sociais. Aposentou-se em outubro de 2011. Atualmente é Professor Voluntário do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá, desenvolvendo estudos e orientando trabalhos na área da Psicologia Social das Emoções

    1ª ed 1994
    O resumo não faz jus a sua particular combinação de qualidades, que é capaz de unir o profissionalismo e a seriedade acadêmica, com perspicácia e inteligencia ímpar, além de ótimo senso de humor e simplicidade. Sua influencia está mais do que presente no blog MCI, desde o início. Uma simples busca pelo argumento "Tomanik" na caixa de pesquisa remeterá para ao menos 30 posts (cerca de 16% dos atuais 194 publicados). Muitos são referencias de aula, com indicações e atividades relacionadas ao seu livro "O olhar no espelho", que foi o texto-base das 13 turmas de "Metodologia" que ministrei desde de 2007 (em vários níveis de pós-graduação, no Brasil e no exterior). Outros são atividades de simulação à elaboração de projetos que idealizamos juntos, com a fictícia APQP (está indexada nas tags como "Grupo/Instituição"). Alguns são menções às suas ideias e/ou à sua pessoa em algumas reflexões que fiz. As mais interessantes, no entanto, são as referencias embutidas em reflexões de alunos que colaboraram com este blog, por tornar patente o processo crítico na formação de novos pesquisadores, dando especial destaque às ideias de nosso mais novo ilustre colaborador. Outra boa forma de verificar a influencia positiva de Tomanik na formação de jovens pós-graduandos em CI é perpassar pelos blogs discentes, derivados do blog MCI.
    2ª ed, 2004 e
    2ª tiragem, 2009

    Conheci Tomanik em 2002, quando tive a feliz oportunidade de coordenar a Editora da Universidade Estadual de Maringá (Eduem), onde trabalhei diretamente com ele no conselho editorial. Acabei, por acaso, como "revisor geral" de seu livro, quando fizemos a segunda edição, em 2004, e foi quando começamos a conversar mais sobre a pesquisa científica e seus métodos. De lá para cá, a troca de ideias nunca cessou, seja presencialmente (quando nossas viagens e agendas coincidem), seja virtualmente (e-mails, chats, postagens e comentários em blogs). Nas idas e vindas da vida acabamos nos reaproximando mais quando decidi mudar um pouco o rumo deste espaço virtual, após acontecimentos descritos aqui, aqui & aqui.

    Sua contribuição será em uma regularidade mensal não-estrita, em um primeiro momento, focada em temas relacionados às falhas e tropeços de redação. Bem humorado e sagaz como é, sugeriu que fizéssemos um "puxadinho" para ele aqui no blog MCI com uma imagem para lá de modesta (ver aqui). No seu primeiro post, programado para a semana que vem, o puxadinho terá muito mais classe; aguardem.

    quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

    Encontro Internacional de Redes: último dia para submissão de trabalhos

    Encerra-se no dia 20 de fevereiro o prazo para submissão de propostas de trabalhos a serem apresentados no "I Encuentro de Redes Académicas e Investigativas en América Latina, el Caribe y Europa Latina", evento que terá lugar no Instituto Tecnológico Metropolitano de Medellín entre 26 e 28 de março de 2014.

    Os organizadores esperam que o evento configure-se como um espaço de debate e análise sobre experiências em redes locais e internacionais, propiciando a convergência de trabalhos teóricos, propostas metodológicas, mostras audiovisuais, artísticas e culturais, que destaquem o papel das redes e o respectivo impacto nas comunidades acadêmico-científicas e na sociedade em geral. As redes são entendidas como agentes vivos de transformação e desenvolvimento, geradoras de integração sociopolítica e econômica e de tessitura social.

    As propostas devem ser submetidas na forma de um resumo (de 150 a 200 palavras), trazendo a identificação do(s) autor(es) e a(s) respectiva(s) titulação(ões) e filiação(ões) institucional(is) para o e-mail: dialogos@dialogosenmercosur.org.

    Maiores detalhes podem ser obtidos na convocatória do evento (disponível aqui).

    Outros links:
    • Ajude a divulgar evento replicando o cartaz (baixe pdf aqui). 
    • Leia post sobre as redes a transforação do conhecimento (acesso aqui
    • Conheça o movimento aglutinador de redes "Dialogos en Mercosur" (portal aqui
    • Conheça o Instituto Tecnológico Metropolitano de Medellín, que hospeda o encontro internacional e é um dos raros exemplos latino americanos de instituição universitária pública com certificação internacional de qualidade (portal aqui) (ISO na imagem ao lado )

     




    EM TEMPO (nota publicada em 25/fev): 
    a relação de trabalhos a serem apresentados já está disponível aqui.

    quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

    As redes e a transformação do conhecimento


    Ultimamente muito se tem discutido sobre a importância das redes sociais para a produção de conhecimento científico, capaz de modificar as atuais estruturas sociais de poder e legitimação. Alguns movimentos acadêmicos e muito sérios estão cada vez mais presentes na América Latina e Caribe, tentando articular e estimular as redes científicas já existentes. O movimento "Internacional del Conocimiento" (IdC) já foi objeto de posts em alguns blogs e tem influenciado diretamente o trabalho de uma rede internacional sobre acesso à informação, que, em 2013, conseguiu organizar uma jornada internacional na Colômbia (ver página aqui). Os "Dialogos en Mercosur" representam uma outra rede aglutinadora de pequenas redes, que vem trabalhando em paralelo à IdC, conseguindo resultados impressionantes. 

    Após um ímpeto inicial pode-se perceber um avanço muito grande da produção em redes na América Latina e Caribe, que, porém, necessitam (pelo próprio crescimento) organizarem-se melhor e mais articuladas umas com as outras. 

    Em 26 a 28 de março, agora, com o objetivo de avançar e solidificar o trabalho colaborativo com redes de conhecimento, se realizará em Medellín, Colômbia, o "I Encuentro de Redes Académicas e Investigativas en América Latina, el Caribe y Europa Latina", cujas submissões estão abertas até 20/fevereiro/2014.  Maiores detalhes sobre o I Encontro de Redes podem ser obtidos baixando a Convocatória e/ou o Cartaz do evento.

    Um quadro comparativo da rede de acesso á informação bem demonstra o crescimento da produção científica articulada em rede:  


    É importante destacar que os simpósios no Chile foram realizados em um congressos com mais de 2.000 participantes, com mais de 50 simpósios simultâneos e a JIAI foi um evento isolado. O Blog Iberoamericano de Enseñanza Archivísitca Universitaria tem sido o principal veículo dos eventos da rede de acesso à informação, concentrados em duas páginas específicas:

    quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

    Assinado o acoordo de cooperação da UnB com a UdeA


    No dia 10 janeiro de 2014, após um período de negociações e tramitações de mais de um ano, finalmente a batalha da burocracia foi vencida e o acordo de cooperação entre a Universidade de Brasília e a Universidad de Antioquia (Colombia) recebeu sua última chancela: a assinatura do reitor Ivan Camargo, da UnB. A vigência inicial é de 5 anos e permite formalizar muitas das atividades que já vinham sendo realizadas entre os professores de ambas universidades. O intercambio docente e de alunos também fica mais fácil. Trata-se de um documento geral, a partir do qual as diversas atividades e termos futuros podem se embasar. A iniciativa, pela parte da UnB partiu do Prof. André Lopez, da Faculdade de Ciência da Informação, que teve o apoio da Assessoria de Assuntos Internacionais (representada na foto abaixo por sua chefe, Profa. Ana Flávia Granja e Barros)  para levar à tramitação à bom termo. 
     

    Baixe aqui os fac-smiles dos acordos (antes da assinatura do reitor da UnB):

    quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

    A ciência nua e crua


    O que separa a simples indagação, ingênua, de uma criança - sobre, por exemplo, por que existe dia e noite -, de uma verdadeira pesquisa "científica"? Uma listagem das diferenças contemplaria inumeráveis itens; dentre eles, alguns relacionados à institucionalização da produção do conhecimento e à legitimação institucional do modo de produzir tal conhecimento. É isso mesmo, trata-se de legitimação dos métodos e de instituições legitimadoras de tais métodos e resultados; esse últimos, nessa acepção, importam muito pouco. A boa instituição é aquela que produz excelentes indicadores de, por exemplo, artigos publicados. Quem os lê e qual a qualidade dos mesmos são questões irrelevantes. Tentando solucionar esse problema, outros indicadores foram criados: por exemplo, sobre o impacto e as citações feitas aos textos. Novamente, ao invés de trabalhar com os objetos concretos, continua-se a lidar com simulacros do real, espectros do conhecimento, a ponto de, como sói acontecer nas instituições e práticas científicas, a representação passar a ser mais importante do que seu referido, em um círculo vicioso de reificação. 

    A grande questão parece não ser a prática da substituição em si, porém o discurso falacioso, vazio e hipócrita de pesquisadores supostamente comprometidos com a produção de conhecimento científico social e historicamente relevante, mas que, na verdade, apenas se comprometem com suas verbas, as estatísticas e a legitimação de tal cenário por seus pares. Aos poucos que se esforçam para não jogar esse jogo, mesmo estando à mesa, geralmente restam três caminhos: o conformismo alienado, a resistência em trincheiras e a desistência honrosa. Um simples olhar para alguns colegas e espaços administrativos de qualquer universidade é suficiente para caracterizar o primeiro tipo. As trincheiras isoladas, a cada dia, graças às redes sociais e às TIC, conseguem começar a incomodar, porém, ainda de modo muito limitado em termos de escala. Muitos dos posts difundidos neste blog podem servir como ilustração de algumas dessas práticas de resistência, seja por eles mesmos, seja por situações e textos neles abordados. 

    O post de hoje visa trazer à baila o recente protesto/denúncia feito por um estudante de doutorado que, após se cansar das práticas hipócritas e autolegitimadoras da academia, optou por largar o curso, escrevendo uma carta de desistência que permite discutir muitos aspectos interessantes sobre o fazer ciência, além de desnudar, despudoradamente, alguns mantos intocáveis da "academia". Sua carta, que é quase um ensaio (mas não seria aceita para publicação por nenhuma revista "tradicional", por não ter uma seção "metodologia") traz, além da introdução, as seguintes partes: (i) "Academia: não é ciência é um empreendimento"; (ii) "Academia: “Trabalhe duro, jovem Padawan, para que algum dia você também possa dirigir seu próprio laboratório"; (iii) "Academia: a mentalidade da cabeça"; (iv) "Academia: onde a originalidade te destruirá"; (v) "Academia: o buraco negro do oportunismo na pesquisa"; (vi) "Academia: estatísticas a granel"; (vii) "Academia: a terra selvagem dos egos gigantes"; (viii) "Academia: o maior truque jamais realizado foi convencer o mundo sobre sua necessidade".

    A discussão sobre se é mais fácil fugir do que lutar escapa ao âmbito desse blog. O interesse recai sobre o texto apresentado e sua argumentação e não sobre a decisão pessoal tomada. 

    Aceda ao texto original aqui e lembre-se, durante a leitura, da escola de bruxaria tão bem retratada pela autora de Harry Potter, cuja inspiração é, em boa parte, oriunda dos muros da academia.